OLHO DE BOTO
A prisão do tenente Dilermano Carmo da Luz dá início a uma guerra de versões, que depois se estenderá para o Tribunal do Júri, já que o crime não foi cometido no exercício da função de policial. A defesa adiantou que vai alegar que a morte foi acidental, ou seja, que o homicídio seria culposo, sem intenção de matar.
Três advogados fazem a defesa do policial. Um deles, Marcos Roberto Marques, interpretou de forma diferente da maioria das pessoas as imagens do circuito de câmeras que mostram o assassinato do agente de portaria, Fernando da Silva e Silva, de 26 anos, no último sábado, 18, no Bairro do Buritizal
As imagens parecem mostrar que o policial mira e acerta a cabeça do rapaz que estava correndo para tentar fugir. O jovem caiu inerte e foi levado para o Hospital de Emergência de Macapá onde já chegou morto.
“Ele deu um tiro como se fosse para intimidar, mas infelizmente pegou no rapaz. Ele jamais imaginou que iria acontecer. Esse é um tiro que dificilmente alguém consegue repetir”, avaliou o advogado, referindo-se à distância (cerca de 15 metros), e ao fato de o alvo estar em movimento.
“Para calibrar a mira, todo policial faz a empunhadura (usar outra mão por baixo para dar apoio ao tiro). Ele não fez isso”, acrescentou.
Para o advogado da família da vítima, no entanto, o tiro foi certeiro porque o policial é altamente treinado, e por isso era instrutor de tiro no Centro de Formação da PM.
“É um indivíduo frio e calculista. Atirou sem chance de defesa pra vítima, e ainda saiu friamente andando”, acusou o advogado Alexandro Gama, que acompanha a família do agente de portaria.
“Ele já respondeu por crimes como desacato, e vai responder ao processo preso, que é o correto para garantia da ordem pública”, acrescentou.
Motivo da briga
As imagens do circuito de câmeras do mercantil deixam claro que houve uma discussão entre o oficial e o agente de portaria, mas o motivo ainda é obscuro.
Na versão de parentes da vítima, os dois não se conheciam, e o desentendimento teria começado depois que o tenente interferiu em um bate-boca entre o agente e outros rapazes que estavam bebendo juntos no mercantil.
“Eles não se conheciam. A conversa não era com o policial, era com outro rapaz que era conhecido do Fernando. A confusão foi na hora de pagar as cervejas que estavam faltando. Houve um bate-boca na coleta e o policial se meteu no meio da conversa e já chegou falando alto. Meu irmão reagiu do mesmo jeito, no mesmo tom”, diz Benedito do Socorro, outro parente que acompanhou a apresentação do oficial na noite desta segunda-feira, 20.
“São vários agravantes: não deu chance de defesa, usou arma da PM que é extremamente letal e mortal, e ainda por cima por motivo fútil, já que eles nem se conheciam”, acrescentou o advogado da família.
A defesa criticou o fato de o Ministério Público ter pedido a decretação da prisão do oficial da PM.
“Causou surpresa e estranheza”, disse Marcos Roberto.