Depois de perder a carreira para as drogas, ex-jogador salva vidas

O centro Peniel realiza trabalho de recuperação de pessoas com dependência química no estado
Compartilhamentos

CÁSSIA LIMA

Quem anda de ônibus em Macapá já deve ter visto pessoas pedindo ajuda financeira para uma casa de apoio chamada O Peniel, em hebraico, a “Face de Deus”. O portal SELESNAFES.COM foi atrás do estabelecimento e descobriu histórias de vida e superação de ex-drogados que lutam para combater o vício e receber ajuda.

A casa de apoio O Peniel existe no Amapá há 6 meses, mas já possui um histórico de 5 anos em Belém (PA). A residência em Macapá alugada por R$ 900 mensais é localizada na Avenida José Nery, número 921, no Bairro do Zerão.

peniel 4

Luciano Oliveira com os moradores do centro. Trabalho tem menos de um ano em Macapá. Fotos: Cássia Lima

O Peniel foi fundado por André Picanço, um ex-dependente que decidiu fundar a casa para tirar outras pessoas das ruas e do vício. O imóvel que possui 6 quartos e dois banheiros tem hoje 27 pessoas, a maioria são homens que, por iniciativa da família e outros por si mesmo, foram atrás de ajuda contra o vício de álcool e drogas.

Luciano Oliveira, de 26 anos, é o atual coordenador geral da casa no Amapá. É ele quem se esforça para proporcionar a alimentação, e tem uma história de vida de luta. Luciano Oliveira começou nas drogas consumindo maconha aos 10 anos, quando ainda morava em Belém e jogava no time de base do Clube do Remo.

“A gente consumia maconha porque não cansava durante o treino. Quando eu peguei uns 13 anos, aquilo se tornou constante. Nos meus 14 anos eu passei no teste pra jogar no juniores do Corinthians, em São Paulo, e lá que tinha droga mesmo”, contou Luciano. 

peniel 3

Disciplina e religiosidade são componentes do trabalho de recuperação

Em São Paulo, o jovem que já não morava com a família, e sim no alojamento, não tinha que esconder dos pais e começou a consumir drogas mais pesadas. Quando tinha 17 anos ele se destacou num campeonato em São Paulo, e foi um dos oito alunos selecionados selecionado para jogar na Polônia. O time dele ficou em 4º lugar, mas, mesmo assim, olheiros do país chamaram ele para se profissionalizar por lá.

“Pelo meu destaque lá, eles pediram pra me contratar, fizeram uma bateria de exames e constataram que eu tinha muita cocaína no meu organismo. Me mandaram de volta em três dias e me barraram de todos os clubes do Brasil, logo quando eu ia me profissionalizar”, lamenta o ex-atleta.

peniel 6

No centro hoje residem 27 pessoas

“Aquilo foi um choque porque era um sonho que eu vinha construindo há muito tempo. Minha família soube que eu era usuário de drogas e me virou as costas. Eu terminei a escola, mas não quis mais saber de nada. Meu pai havia morrido, minha mãe morava em outro estado e morei com meus tios”, recorda.

Foi então que ele, para sustentar o vício, começou a vender drogas. Ele diz que conseguia cocaína e maconha fácil, experimentou crack e chegou a morar na rua. A mãe que nunca passou a mão na cabeça dele chegou a dormir na boca de fumo para ele não consumir drogas.

“Ninguém em momento nenhum me ofereceu ajuda. A não ser minha mãe. Ela nunca passou a mão na minha cabeça, mas ela tava lá. Me internei por ela, mas depois voltei. Foi quando nasceu minha filha e decidi que queria ver ela crescer. Estou limpo há 6 anos”, conta feliz.

Adesivos são vendidos dentro dos ônibus para custear alimentação e despesas do local

Adesivos são vendidos dentro dos ônibus para custear alimentação e despesas do local

Hoje a história de vida dele ajuda outras pessoas. E foi contando a própria experiência que Luciano salvou a vida de Max Cardoso da Trindade, de 40 anos. Ele falava do trabalho da casa em Belém, em um ônibus na capital paraense. A mãe de Max estava com “chumbinho” (veneno para rato) na bolsa para matar o filho e a si mesma.

“Minha mãe ouviu ele e o chamou, falou de mim e ele disse que ia me ajudar a internar. Quando eu já estava na clínica, mamãe revelou que naquele dia tinha comprado chumbinho pra matar nós dois porque não aguentava mais o sofrimento”, conta emocionado Max, que hoje mora na casa em Macapá.

peniel 9

Max Cardoso: salvo da dependência pelo trabalho da casa de apoio

Ele também lutou muito pela própria vida e assim que ficou longe das drogas decidiu ajudar o próximo. Hoje, é orientador da casa em Macapá. Ele conta que é um trabalho espiritual, mas a vontade da pessoa conta e muito.

“A Palavra de Deus é fundamental. Temos o programa dos 12 passos e os cultos. De 150 pessoas que passaram por aqui, já conseguimos libertar do vício umas 50”, revela.

A casa é pequena e todos podem sair. Mas existem regras de convivência e horários para tudo. Existem reuniões, e nas quartas e sextas são realizados os cultos. Aos domingos, todos vão para a igreja. O foco é que a pessoa tenha a vontade de sair do vício e resgatar a sua vida. Todos trabalham de forma voluntária.

Manutenção do local é feita pelos próprios internos

Manutenção do local é feita pelos próprios internos

“A minha principal dificuldade foi admitir que eu precisava de ajuda e reconhecer que eu estava na pior. Minha meta é continuar aqui e conseguir um trabalho. Estou com disposição que não tinha antes e feliz por não ter que fazer coisas erradas”, disse o técnico de enfermagem, Lucinei Pereira, de 34 anos, que está na casa há 6 semanas e foi viciado por 10 anos em maconha e cocaína.

Esses homens e os outros que moram na casa vivem da venda de adesivos para comer e vestir. Às vezes eles pedem ajuda de familiares para alimentação. Atualmente, eles recebem doação na casa. Os telefones são: (96) 99154-6124 e (96) 98134-3355. 

 

 

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!