Empresário é acusado de desviar R$ 2,4 milhões em precatórios

Entre as vítimas do esquema, está um ex-senador do Estado de Góias, falecido ano passado, segundo a Polícia Civil
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OLHO DE BOTO

Um homem foi preso na tarde desta quinta-feira, 2, acusado de envolvimento em um esquema milionário de desvio de precatórios judiciais. O empresário Frederico Greindinger Modesto, de 39 anos, foi encontrado pela equipe da Polícia Civil em uma residência, no Bairro do Beirol, zona sul de Macapá. Ele não ofereceu resistência.

O pedido de prisão foi expedido pela 3ª Vara Criminal de Macapá. Frederico Modesto tinha um mandado de prisão aberto por outro inquérito que apurava um crime de lesão corporal, mas a polícia descobriu sua suposta participação no desvio de R$2,4 milhões de precatórios judiciais da cidade de São Paulo.

Com informações privilegiadas do Banco do Brasil, supostamente fornecidas por um gerente, ele teria descoberto precatórios inativos de casos em que os titulares já haviam morrido, ou então ainda aguardavam decisões judiciais definitivas.

Frederico Modesto (2)

Frederico Modesto se declarou empresário, mas Policia Civil diz que negócios dele eram fechados sempre com dinheiro vivo. Foto: Arquivo pessoal/Facebook

Até o momento, a polícia identificou três indivíduos envolvidos no esquema: o empresário Frederico Modesto; o gerente de uma agência do Banco do Brasil em Macapá, e outra pessoa que mora em Imperatriz, e que conseguia, através de cartório, falsificar as procurações.

O caso chamou a atenção da Polícia Civil porque uma procuração foi dada em 2015, sendo que o titular do precatório havia falecido em 2003.

“Eles acreditavam que não seria feita essa verificação”, comentou o delegado Leonardo Brito da DECCP, que acompanha o caso.

Delegado Leonardo Brito DECCP (2)

Delegado Leonardo Brito: missão é recuperar a maior parte do dinheiro. Foto: Olho de Boto

Segundo a Polícia Civil, procurações eram falsificadas no estado do Maranhão, através de comparsas do esquema que residiam na cidade de Imperatriz. Possuindo a procuração falsificada, Frederico Modesto, com ajuda do gerente do banco, sacava os valores.

A partir do momento em que o dinheiro era sacado, havia a distribuição do mesmo entre os beneficiários do esquema. Saques nos valores de R$ 50 e 100 mil eram realizados aos poucos, além de transferências com o intuito de disfarçar as operações.

“O indivíduo possuía carros importados, um Chevrolet Camaro, possuía alguns bens. Agora estamos verificando a procedência e a cadeia dos bens. Para onde foi passado, quem comprou o bem, o que ele adquiriu com esse dinheiro”, disse o delegado.

O policial disse também que o objetivo das investigações além da prisão dos suspeitos, é ainda recuperar o dinheiro desviado.

“Nós tentaremos recuperar boa parte do dinheiro, não todo porque o dinheiro já foi esvaziado. Apresentaremos o indivíduo à justiça e, após os procedimentos habituais, ele será encaminhado para o Iapen”, complementou.

O veículo investigado pela polícia não foi apreendido, mas pode ser usado para o pagamento do prejuízo de uma das vítimas, de acordo com o delegado.

Frederico Modesto foi preso em casa por ordem da Justiça. Foto: Arquivo policial

Frederico Modesto foi preso em casa por ordem da Justiça. Foto: Arquivo pessoal/Facebook

Vítimas

O delegado Leonardo Brito explicou que os principais lesados com as transações ilegais operadas pelo grupo são proprietários de precatórios judiciais. Além do desvio de R$ 2,4 milhões, que seriam dos herdeiros de uma pessoa morta na capital paulista, no sudeste do país, os levantamentos da investigação também apontam que houve desvios em precatórios na cidade de Goiânia, da conta de um ex-senador falecido em 2016, e em cidades do Nordeste. Em todos os casos os desvios são milionários.

“Através do gerente do banco, ele constatou que esses valores, referentes aos precatórios, estavam parados. Verificando que não havia movimentação, eles acreditavam que poderiam retirar esses valores e que ninguém daria falta. Foi instaurado um inventário, da cidade de São Paulo, e descobriram que os valores foram retirados. A partir desse momento o banco nos comunicou e nos prosseguimos com a investigação, concluindo com a prisão, através da DCCP”, explicou o delegado.

De acordo com informações da Polícia Civil, a maior dificuldade agora será procurar o caminho que o dinheiro fez e como o grupo o utilizava.

“Após a prática, eles precisam branquear, que é fazer a lavagem de dinheiro”, ressaltou o delegado.

Padrão de vida alto

Para o delegado, não há dúvida da origem ilícita do dinheiro, apesar de Frederico Modesto ter declarado que é empresário.

“Ele alegou ser empresário, todavia não conseguiu explicar o padrão de vida que ele tinha. Ele fazia viagens para o exterior. Possuía veículos de alto luxo inclusive são veículos não tão usuais na nossa cidade, ele adquiriu casa à vista, fazendo transferência bancária. Então, dificilmente uma pessoa que seja empresário consegue ter esses valores em espécie parado. Esses valores são todos de origem ilícita”, frisou.

Gerente do Banco do Brasil responsabilizou o empresário, mas polícia não acredita em sua versão

Gerente do Banco do Brasil responsabilizou o empresário, mas polícia não acredita em sua versão

Gerente

O gerente do banco não teve o nome divulgado e ainda não foi preso. Segundo a Polícia Civil, ele foi identificado, interrogado e narrou os fatos. Durante seu relato, ele tentou atribuir a responsabilidade somente a Frederico Modesto, mas a polícia não acredita em sua versão.

“Estamos diligenciando para realizar também o indiciamento do indivíduo (o gerente). Até porque ele quem fez a pesquisa para tudo. Ele tinha acesso ao sistema do banco ele descobria quais os títulos que estavam inativos. Então, um dos títulos foi dessa pessoa ele descobriu e facilitou. Todo o caminho do dinheiro foi rastreado e ele foi uma das pessoas que arquitetou todo esse delito”, comentou o delegado.

Foto destaque: Olho de Boto

Seles Nafes
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