ANDRÉ SILVA
O município de Laranjal do Jari, distante 296 quilômetros de Macapá, no sul do Amapá, passa por seus piores dias desde que foi criado, em dezembro de 1987. Os moradores tentam esquecer os últimos quatro anos em que a cidade ficou praticamente parada por vários escândalos de corrupção e de consecutivas trocas no poder.
Com a retomada das 31 obras paradas, entre elas, duas vilas de casas populares, creches e uma ponte, que precisa de mais de R$ 38 milhões para ser concluída, o novo prefeito espera que a taxa de desempregados caia nos próximos meses.
O portal SELESNAFES.COM esteve no terceiro maior município do Amapá, com aproximadamente 45 mil habitantes, para saber o que tem sido feito para enfrentar a crise que assolou a cidade nos últimos quatro anos em que cinco prefeitos foram empossados.
Obras paradas e invasão
Entre as diversas obras paradas no município, há duas que mais chamam atenção: o Conjunto Habitacional Buritizal, onde as obras estão paradas há mais de 10 anos, e a ponte sobre o Rio Jari, iniciada em 2002 e há mais de 8 anos parada.
O conjunto é formado por 302 casas que estão praticamente prontas, falta apenas o acabamento e a instalação da rede de esgoto, água e luz, o que gira em torno de R$ 600 mil, segundo a prefeitura.
Mesmo com essas deficiências, algumas pessoas que estão sem condições de pagar aluguel e sem trabalho, resolveram invadir o local. Agora, vinte e uma famílias estão morando lá, entre elas a família de Jesus de Nazareno, de 39 anos, que mora no Jari há três décadas.
Ele, a mulher e três filhos dividem um espaço de pouco mais de 4 metros quadrados contendo um quarto, um pequeno espaço onde fica a sala, a cozinha e um banheiro.
“A crise pegou e eu não tenho como pagar aluguel. A gente puxou uma luz para as casas e a água que é consumida, é trazida por um carro pipa cedido pela prefeitura”, disse Nazareno.
Segundo a prefeitura, a obra é financiada pela Caixa Econômica Federal e estava travada e, após todos os levantamentos que estão sendo realizados pelo banco, ela será retomada. A previsão é que isso aconteça ainda esse semestre.
Ponte do Rio Jari
Essa é outra obra que impressiona. Iniciada em 2002, seus 490 metros, ligaria Laranjal do Jari a Almerim, município paraense. A construção foi questionada pelo Ministério Público Federal que, após investigações, apurou desvios de verbas que aconteceram entre 2003 e 2008 e totalizaram mais de R$ 15,4 milhões em desvios.
“Nós temos 10 milhões na conta que estamos tentando salvar. Existe uma força tarefa da Justiça Federal, Caixa Econômica e da nossa equipe técnica para tentar desenrolar a questão dessa ponte”, afirmou o prefeito Marcio Serrão (PRB).
Segundo ele, ainda existem possibilidades para retomada da obra, mas muito pequenas.
Parte da sua estrutura já foi danificada pela ação do tempo e de acidentes com embarcações. Segundo o prefeito, para ser concluída seriam necessários mais R$ 38 milhões.
A crise política
Em menos de três anos cinco prefeitos foram empossados. Após denúncias, dois foram afastados.
O primeiro a perder o mandato foi Zeca Madeireiro (PROS), que morreu em acidente a caminho da capital Macapá, em outubro de 2015. Ele e a vice, Nazilda Fernandes (PMDB), foram cassados sob a acusação do Ministério Público de terem tido a campanha de 2012 beneficiada pela prefeita na época, Euricélia Cardoso (PP).
Depois de Madeireiro, assumiria a prefeitura o segundo mais votado, Barbudo Sarraf, mas ele tinha problemas na justiça o que o tornavam inelegível, dando assim lugar para o terceiro colocado, Bode Queiroga, que mais tarde foi afastado após denúncias do Ministério Público do Amapá (MP-AP) que investigava irregularidades como contratos sem licitação, nepotismo e uso de bens públicos.
Depois do afastamento de Queiroga, o seu vice, Airton Nobre (PV) assumiu, mas logo teve que deixar o cargo porque Nazilda Fernandes (PMDB) estava de volta. Ela foi absolvida do inquérito na justiça que a mantinha afastada do cargo e assumiu a cadeira de prefeita da cidade.
Até aí, três prefeitos já teriam assumido a cadeira em menos de três anos.
Meses depois, em 2016, a Câmara dos Vereadores cassou o mandato de Nazilda Fernandes. Ela foi acusada de improbidade administrativa por não fornecer merenda para as escolas do município e não prestar contas das verbas destinadas à merenda escolar.
Com seu afastamento, assumiu o então presidente da Câmara dos Vereadores, Aldo Oliveira (PSB) que permaneceu no cargo até a posse de Márcio Serrão.
Apesar de tudo, nas ruas o que se vê são pessoas esperançosas com os dias melhores que hão de vir sobre a cidade que já foi considerada uma das mais ricas do Estado.
“Para nós é uma coisa que nunca mais queremos passar. Esses foram os piores quatro anos que já vivemos aqui em Laranjal”, disse a dona de casa Liseuma Campos, de 35 anos.