ANDRÉ SILVA
Os pais de Bruna Daniele Castro Pastana, de 26 anos, morta no dia 14, terça-feira, ao sair de casa para ir matricular o filho, no bairro Jardim Marco Zero, zona sul de Macapá, não têm certeza da motivação do crime.
Eles não descartam a hipótese que o crime pode se tratar de latrocínio, mas também veem que é possível que tenha havido outra motivação para a forma como os dois infratores agiram, desferindo um golpe de arma branca e fugindo sem levar nada das vítimas.
José Elenildo, de 57 anos, conhecido como “Mujoca”, liderança comunitária do Bairro Congós e Maria Estela Pastana, de 50 anos, pais de Bruna Daniele, conversaram com o portal SELESNAFES.COM.
Dois dias após a tragédia que abalou a família, eles dizem que preferem deixar as investigações sobre o caso a cargo da Polícia Civil e continuar o trabalho que realizam no local onde moram, tirando jovens de situações de vulnerabilidade e, dessa forma, estarão homenageando a filha, que também ajudava a comunidade participando dos projetos promovidos pelos moradores.
Sobre o que vem sendo divulgado nos meios de comunicação, de que o namorado de Bruna Daniele teria uma rixa com um dos autores da morte da jovem, Mujoca esclarece que essa é apenas uma hipótese levantada pela polícia depois de ouvir um o pai de um dos criminosos.
Os dois infratores, ambos menores de idade, foram presos pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) ainda na noite do crime, em uma área de pontes, escondidos por uma terceira pessoa, no Bairro Congós.
“Ele citou que o rapaz que estava com a minha filha teve um envolvimento em uma bronca com esse menino, o que a gente deduz: se realmente isso aconteceu, pegaram ela”, explicou Mujoca.
Após o trauma de ter presenciado a filha perder a vida, dona Maria Estela Pastana, recordando do fato, também comenta que o infrator agiu de forma suspeita para quem iria apenas cometer um roubo.
“Ele foi diretamente nela. Se ele quisesse a bolsa, ele tinha levado a bolsa”, recordou a mãe.
O pai lamentou também que depois de tantos anos atuando na segurança comunitária de seu bairro, que tenha sido vítima da violência.
“Infelizmente, a gente caiu no sistema da violência. A gente tem ajudado tanto a tirar esses garotos das ruas com nossos projetos sociais dentro dos bairros e às vezes você protege os filhos dos outros e esquece de proteger o da gente”, lamentou.
Sobre a continuidade da militância na comunidade, Mujoca diz que pretende continuar.
“Não penso em sair da luta de maneira nenhuma. Nosso trabalho é de prevenção, de resgate dos adolescentes metidos na violência. Não é por isso que vamos parar”, disse.
Para Mujoca, a segurança é obrigação do estado, mas a sociedade civil organizada tem que estar junto porque somente a polícia não dá conta. Ele avalia que os responsáveis pela morte da filha só foram pegos graças a ajuda da comunidade, que indicou para o Bope onde os infratores se escondiam.
Projetos comunitários que salvam vidas
Bruna Daniele participava do conselho de segurança do bairro e, junto com o pai, atuava no projeto Formando Cidadãos. A iniciativa é realizada por meio de uma série de atividades voltadas para a comunidade, principalmente crianças e adolescentes, como capoeira acompanhamento escolas, merenda, grupo de dança de salão, dentre outras. São atendidas nas ações cerca de 80 crianças crianças e adolescentes, 40 pela manhã e 40 pela tarde.
“Isso não saí de nenhum governo, mas da ajuda da comunidade, dos comerciantes e do nosso bolso. Nosso trabalho é voluntário e temos bons resultados ao longo dos anos. Por exemplo, um garoto que passou por aqui em 2005 hoje é policial militar, outro é professor, outros estão empregados”, finalizou o líder comunitário.