SELES NAFES
Quem pensa que a folga do carnaval já acabou está muito enganado, pelo menos não para uma certa Casa de Leis do Amapá. A última vez em que os 24 deputados estaduais se reuniram no plenário da Assembleia Legislativa para deliberar foi há exatos 11 dias. Na próxima terça-feira, 7, quando (talvez) retornarem, terão acumulado mais de duas semanas de “férias”. Mesmo assim, os salários serão pagos integralmente, sem sombra de dúvida.
Pelo regimento interno, as sessões são realizadas sempre as terças, quartas e quintas-feiras, a partir das 9h30min. Em ano eleitoral, como será 2018, uma brecha no regimento permite que os deputados se reúnam apenas uma vez por semana, com a desculpa de que estarão visitando suas bases no interior do Estado atrás de votos. É isso mesmo. Pagamos para que eles tenham a oportunidade de se reeleger, o que não deixa de ser financiamento indireto de campanha.
A Assembleia Legislativa do Amapá é presidida pelo deputado Kaká Barbosa (PSDC), após uma exaustiva e desgastante guerra com seus pares que durou mais um ano, e que começou após o rompimento de grupos que unidos retiraram do poder o então presidente Moisés Souza (PSC).
A coalizão em torno de Kaká durou apenas seis meses, e a crise resultou numa guerra de liminares e episódios de renúncia coletiva que engessaram a produtividade da Assembleia. Durante todo esse período de disputa interna pelo poder, a Alap não aprovou nenhum grande projeto de relevância que tenha ficado marcado na lembrança das eleitores/contribuintes.
Muito pelo contrário. As manchetes de condenações por enriquecimento ilícito atingem a maioria dos deputados, e outras ações penais estão em curso.
A direção da Alap até chegou a ensaiar, no fim do ano passado, uma campanha com estratégia de comunicação cujo objetivo era a reconstrução da imagem positiva da Alap, se é que um dia teve alguma.
Nesse pacote, valeu inaugurar elevador para pessoas portadoras de deficiência, mutirão de atendimentos sociais (com deputados/médicos clinicando) e até o anúncio de um concurso público. Mas ficou por aí.
A justificativa para que a Alap não voltasse do “recesso” do carnaval, como todos os mortais, foi que a troca de um carpete no plenário usou uma cola que deixou um odor ruim no plenário. Fome com a vontade de comer.
O fato é que essa política do pouco esforço deixa uma triste convicção: mantras nem sempre são infalíveis. Um dos fundadores da Seicho-No-Ie, Masaharu Tanigushi, cunhou:
“O dom natural da Vida é trabalhar. A Vida se desenvolve através do trabalho. Progride aquele que agradece à necessidade e ao trabalho”. Não é bem assim.