JÚLIO MIRAGAIA
No Amapá, as obras demoram a ser concluídas. Demoram com “d” maiúsculo. Elencar elas num único texto poderia me fazer perder o objetivo central deste artigo. Podemos citar algumas, entre atrasadas, paradas e/ou abandonadas.
Certamente irei esquecer muitas, mas aqui vão: Hospital Metropolitano, aeroporto, ponte de Laranjal do Jari, creche na zona sul, Mercado Central, muro de arrimo do Araxá, BR-156, Glicério Marques, Rodovia Norte-Sul, Hospital da Criança, Duca Serra, e por aí vai.
Por inúmeros motivos e sob as diferentes responsabilidades das esferas do poder, para cada grupo político que governou o estado e os 16 municípios, para cada um deles há, no mínimo, uma obra parada. Algumas foram judicializadas, para outras não há dinheiro disponível, parcerias com o governo federal foram suspensas ou há algum problema burocrático.
Desse jeito, em passos de formiga e sem vontade, projetos que serão (ou seriam) importantes para o desenvolvimento do estado vão progredindo, ou não.
Não bastasse a demora, quando uma obra importante é inaugurada ainda temos que presenciar a briga pela paternidade dos projetos.
Vimos recentemente, durante a inauguração da ponte do Rio Matapi, em Mazagão, uma disputa nas redes sociais entre a antiga gestão e a atual do Palácio do Setentrião sobre a responsabilidade do projeto e sua execução.
E assim tem sido, desde “muitos sempres”, como quando inaugurado o complexo Beira-Rio, nos anos 1990, e quem brigava pela autoria do projeto eram os ex-governadores João Capiberibe e Annibal Barcellos.
É o tipo de disputa que demonstra que a classe política pouco se importa sobre os limites que deveria haver entre ser gestão e prestar um serviço público. O aparelhamento partidário da máquina pública é, provavelmente, o maior dos males que precisariam ser revisados numa reforma política ou numa possível assembleia constituinte no Brasil.
Criar mecanismos que combatam o desperdício do dinheiro público e que ponham fim na farra das obras que nunca acabam é um desafio que não pode depender somente do poder executivo ou do parlamento, que demonstra estar cada dia mais anacrônico e até com interesses sobre a lentidão do progresso. Tampouco cabe somente para o judiciário a tarefa de fiscalização. É preciso a participação da sociedade em busca dessas soluções.
É preciso também pensar que um projeto de desenvolvimento do estado deva ter um caráter técnico, não contaminado no mar de mágoas e vaidades das disputas pelo poder local.
É curioso que vemos a disputa pela paternidade do que está pronto, mas não pelo que não se concluiu. Há, sem dúvida, a necessidade urgente, da parte da sociedade, de que essa forma como se faz política seja modificada para que o interesse público prime sobre as rixas de cores.