HUMBERTO BAÍA
Há mais de uma semana, a Guiana Francesa vive um clima de incertezas e de insatisfação da população em relação à segurança publica, saúde, educação e a falta de empregos. No início, o movimento era apenas uma greve de funcionários da companhia de eletricidade, até que outros sindicatos foram aderindo ao movimento paredista, e, na última semana, o Sindicato dos Trabalhadores da Guiana CTG, uma espécie de central sindical, deflagrou greve geral.
A Guiana Francesa é um departamento ultramarino da França na América do Sul. Nos anos 1970 e 1980, durante a construção da base espacial de Kuorou, a mão de obra estrangeira era bem vinda e muitos brasileiros dos estados do Pará e Amapá eram recrutados para trabalhar nas obras da base.
Com isso, muitos ficaram, fizeram família e já estão na terceira geração. Haiti, Suriname e Guiana são países que têm uma comunidade estrangeira muito grande na Guiana Francesa, incluído o Brasil.
No último ano, a delinquência entre os jovens cresceu bastante no departamento e bateu recorde. Depois de várias tentativas de falar com representantes do governo, a população criou uma associação denominada 500 Irmãos. Os membros se apresentam vestidos de preto e capuz. Mas a violência foi somente um pano de fundo para que vários sindicatos decretassem greve geral no departamento.
A situação está incontrolável em alguns bairros de Caiena. Um vídeo mostra um motorista arrancado de dento do carro violentamente. As principais rodovias estão bloqueadas pela polícia ou por manifestantes. Na última quarta-feira, 22, em Kourou, onde está localizada a base espacial, um grupo de manifestantes entrou em choque com a polícia.
Na terça-feira 21 de março, o centro espacial de Kourou deveria fazer o lançamento do satélite estacionário do Brasil. O satélite atenderá a banda larga na Região Norte e também ao Exército. O satélite foi adquirido pela Telebrás por R$ 2 bilhões.
Mas desde o início dos bloqueios não foi possível realizar o lançamento do empreendimento espacial brasileiro. A agência espacial europeia ainda não anunciou a data para um novo lançamento.
A ministra de Assuntos Ultramarinos da França, Ségolène Royal, disse que “a situação continua tensa”. Na tarde deste sábado, 25, um grupo de políticos vindos de Paris chegou para tentar negociar com os grevistas e desembarcou no aeroporto de Rochambou.
Porém, os representantes do governo francês embarcaram em um helicóptero no fim do dia sem que tivesse ocorrido um encontro com os 500 Irmãos, o que deixou os manifestantes ainda mais furiosos. Eles insistem na vinda dos ministros que têm maior poder de decisão para apresentar suas reivindicações.