ANDRÉ SILVA
Três ovos fritos no café da manhã, mais de uma hora de caminhada diária, duas taças de vinho e depois do almoço aquela dormidinha. Junte isso a uma boa dose de felicidade e pronto. Esse é o segredo da longevidade. É o que garante o aposentado João Bíscaro Penha, de 93 anos.
Ele é o mais idoso em uma turma de 100 alunos do projeto de extensão da Universidade Federal do Amapá (Unifap), a “Universidade da Maturidade”. Foi a maneira que a instituição encontrou de levar idosos para dentro do ensino superior.
Mas não é lá que a história desse senhor com espírito jovem começa. Bíscaro nasceu em 14 de março de 1924, em São Simão, cidade do interior do Estado de São Paulo. Ele conta que a vida naquele lugar, que já foi conhecido como a maior cidade cafeeira do Brasil, o ajudou a chegar nessa idade.
“Hoje o que se vê é plantação de cana para todos os lados”, protestou Seu João, que é como gosta de ser chamado.
Quando jovem, trabalhou como apicultor, profissão que aprendeu na escola técnica de agricultura em Ribeirão Preto, cidade paulista.
Ele está em Macapá desde dezembro do ano passado quando resolveu vir passar um tempo com a filha mais velha, Luiza Bíscaro, que é quem ajuda na conversa, já que seu João está com problemas auditivos.
Em poucos minutos de conversa com o portal SELESNAFES.COM, ele conta como foi sua vida na roça e como aprendeu o segredo da felicidade.
O Senhor está há quanto tempo em Macapá?
Aqui há pouco tempo. Estou filando uma boia na casa da minha filha. Cheguei em dezembro. Vim passear e me matricularam na universidade. Estou muito feliz!
O senhor já tem alguma graduação?
Estudei em Ribeirão Preto na Escola de Agricultura. Sou formado em apicultura e prática em zootecnia.
Então o senhor já trabalhou com criação de abelha?
Já, mas as abelhas não eram minhas. Faço cera, desdobramento e já até dei aula de apicultura.
Seus pais são de onde?
Meu pai é italiano de uma cidade que não lembro o nome. Minha mãe veio para o Brasil na barriga da minha avó e nasceu em São João da Boa vista.
O senhor é casado? Tem filhos?
Sou viúvo, infelizmente. Fui casado por 66 anos, tive três filhos e tenho cinco bisnetos. Meus filhos estão todos formados e bem encaminhados. Não são ricos, mas sobrevivem.
O senhor consegue aprender tudo o que lhe ensinam aqui?
Na aula de Direito é a que eu dou mais palpite. Estou aprendendo até bem porque ela (a filha) é professora de inglês e me ensina tudo.
Qual é a sua rotina diária?
Eu sou de deitar cedo e acordar cedo. Deito 22h no máximo e acordo as 6h30min. Ela (a filha) faz um omelete com três ovos, aí vamos caminhar por uma hora ou mais no quarteirão do condomínio onde moramos. Tomo banho, almoço e venho para a Unifap. Enquanto caminho ela vai me dando aula.
Como o senhor fez para chegar a essa idade e bem lúcido?
Tenho a impressão que a minha profissão já era uma academia. Descia do trator e já montava o cavalo, descia do cavalo pegava a coleteira, de lá para a ordenha. Minha vida era ‘ajeitada’ e acredito que isso me fez chegar a essa idade. Além disso tinha a alimentação saudável, minha mulher cozinhava muito bem, se não eu não tinha chegado a essa idade.
O senhor chegou a fumar e beber?
Sim. Fumei de 6 anos a 60 anos. A única sequela foi a tosse e um AVC. Exercício e boa alimentação me fizeram chegar até aqui.
…
Após a entrevista, Seu Bíscaro se despede contando uma piada de português, e na certeza de que continuará sendo feliz.
Além de Bíscaro, existem outros idosos na Unifap que por meio do estudo encontraram mais motivos para continuar vivendo. Um novo processo seletivo para novas turmas só acontecerá em abril de 2018.