“Bandido bom é bandido morto”, desde que não seja alguém querido

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por WASHINGTON PICANÇO,  advogado criminalista

A moda agora é compartilhar a frase “bandido bom é bandido morto”, e mensagens de parabéns às polícias Civil e Militar pelo êxito de matar o matemático. Vamos deixar de ser hipócritas e analisar a frase, “bandido bom é bandido morto”.

Ela é muito válida, desde que não seja nosso filho, irmão ou qualquer outro parente, porque aí a coisa já muda de conversa. Se é seu filho, você não vai achar que morte é a solução, pelo contrário, vai lutar pela recuperação dessa pessoa que por algum motivo foi para o mundo do crime. E terá certeza que com esforços o criminoso vai largar essa vida.

Quem nunca viu adolescentes de classe média entrarem para a vida do crime? Muitos conseguiram sair porque tiveram uma família para dar suporte. Tiveram uma educação de qualidade. E para os que também eram usuários de drogas houve tratamento, e de qualidade.

Agora eu pergunto: o que o Estado faz pela população de baixa renda? Educação de qualidade, não há. Saúde? Piada. Tratamento para dependente químico, o que dizer? E o sistema penitenciário, que em muitos países recupera o criminoso, aqui no Brasil ele tem a capacidade de piorar ainda mais a pessoa.

É impressionante verificar o quão disseminada é a ideia do “bandido bom é bandido morto”, pessoas de todas as categorias vibram com a notícia de que o meliante tal foi fulminado em confronto com a polícia, ou eliminado pelas mãos de desafetos, mais ainda quando ocorre pelas mãos de uma vítima tentada que reage.

Quem se posiciona contra essa “ideologia” é imediatamente taxado de “defensor de bandido”, pecha que aliás é atribuída a qualquer um que compreenda do que se trata Direitos Humanos e porventura lembre em algum comentário, que os agentes do Estado, em especial os da lei e da ordem, devem por obrigação legal respeitar primariamente as convenções relacionadas.

Não importa que se considere válida a inevitável baixa do criminoso em confronto armado com a polícia, para os ensimesmados do  mantra bandido bom é bandido morto, toda morte de criminoso é “válida e comemorável”…, mesmo que desnecessária, covarde e ilegal, porém incrivelmente se calam e “não enxergam” quando gente inocente é morta confundida com bandido (mesmo que ocorra as dezenas e de uma só vez), e se você não raciocina e se manifesta assim é “defensor de bandido”.

O que esses ensimesmados não entendem, é que ao fazer apologia do bandido bom é bandido morto estão colaborando para uma cultura de violência.

Aos que fomentam a violência, aqui vai um aviso: qualquer um (inclusive eles mesmos, seus filhos, parentes e amigos) pode ser a próxima vítima. Esses acreditam piamente que por serem “gente de bem” estão imunes ao erro de pessoa, truculência e até morte por parte dos mesmos truculentos e matadores sumários que tanto festejam.

Quando esse tipo de mentalidade vem de pessoas que por suas características socioeconômicas e fenotípicas se encontram em grupo privilegiado, até se entende a atitude de alheamento, já que não são de fato vítimas potenciais e “preferenciais” do erro de pessoa.

Porém, simplesmente não percebem que correm tanto perigo quanto alguém que não tem noção do perigo, aliás, correm mais, pois alimentam o perigo que pode ceifá-los ou aos entes queridos.

Seles Nafes
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