Jesus de Nazaré

Para o filho de Maria e José, o amor era urgente
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JÚLIO MIRAGAIA

Mito para poucos, realidade e motivo de fé para muitos, a história de Jesus de Nazaré, para além da grandiosidade que ocupa na história, é metáfora concreta das relações humanas.

Um jovem idealista, pacífico e defensor de um novo mundo para uma humanidade tão problemática, Jesus está além do que se diz.

Profeta e filósofo, o “ser revolucionário” para esse personagem/personalidade transcende o conceito de insurreição violenta contra a ordem. Entendo que longe de ser aceitação das coisas, sua obra é uma irrupção pacífica contra o ódio.

Andou com o que era considerada a escória da sociedade de sua época: leprosos, prostitutas, ladrões, pobres e demais excluídos. Para o Estado e para o senso comum, exercia uma atividade criminosa. Blasfemava contra as leis e contra a religião oficial, anunciava milagres, prometia uma vida eterna pelo amor ao próximo.

Representação da crucificação. Imagem: abiblia.org

Representação da crucificação. Imagem: abiblia.org

A interpretação que faço, pelos valores pregados por Jesus de Nazaré, era de que esses novos valores sustentados na caridade não deveriam esperar o paraíso de Deus para ser praticados na Terra. Para Jesus, o amor era urgente.

O filho de José e Maria, porém não foi digno da confiança dos defensores da violência como solução para os problemas. Não foi digno da confiança do Estado e de suas leis. Sua filosofia não cabia na lógica do bandido bom é bandido crucificado. Então foi considerado fora da lei.

Entregue aos perseguidores por um de seus aliados, Jesus foi crucificado, sabendo do seu destino. Morreu ao lado de ladrões.

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Caridade é pedra fundamental da obra de Jesus de Nazaré. Foto: Sebastião Salgado

Completamos nestes dias 1984 anos dos acontecimentos em Golgota, no Monte da Caveira. Num mundo mais violento do que em qualquer outro momento da história, nosso holocausto é diário contra o exército de esquecidos e subcidadãos, numa sociedade tecnologicamente surpreendente e conectada e ao mesmo tempo barbaramente celebrante da auto-destruição.

A crucificação do outro é diária, enquanto assovia pelos caminhos do labirinto do presente a idealização de um Jesus apenas santo e salvador. E isso é tão pouco diante da necessidade que temos de resolver os problemas deste planeta antes da extinção.

Foto destaque: Sebastião Salgado

*Júlio Miragaia (Júlio Ricardo Silva de Araújo) é jornalista.

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