OPINIÃO: Os velhos de Brasília não podem ser eternos

Desmoralização do atual governo, acuado em mais um escândalo de corrupção, expõe necessidade de renovação de figuras públicas e do sistema político como um todo
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JÚLIO MIRAGAIA

A história da música brasileira se confunde com a história do cenário político de cada época. Verdadeiros clássicos expressaram a indignação popular contra os desmandos da classe política que muito fez e faz em benefício próprio.

De “Que País é Este?”, passando por “Brasil”, “Apesar de Você”, “Podres Poderes”, dentre tantas outras canções, não necessariamente nesta ordem cronológica, temos um mosaico de denúncias perfeitamente atuais que parecem ser hinos permanentes, devido a permanente manutenção dos mesmos senhores no poder. A atualidade do protesto contra os políticos nas canções recebeu f5 nas últimas horas.

Canções de protesto, como as de Cazuza, denunciam desmandos da classe política e se mantém atuais. Foto: reprodução

O mais recente escândalo noticiado no início da noite desta quarta-feira (17) em primeira mão pelo colunista Lauro Jardim no site do jornal O Globo, sobre o dono da JBS gravar o presidente Michel Temer (PMDB) dando aval para a compra de silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha é a cereja podre no bolo de lama da República do Brasil.

A crise institucional que o governo tentava conter se escancarou uma vez mais e dessa vez, provavelmente, sem volta.

Fracassou a tentativa do governo Temer de se blindar via aprovação de reformas impopulares que agradam o mercado (como a da previdência e a trabalhista) da avalanche de corrupção que está sendo acusado junto com seus aliados.

Pouco mais de um ano após o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef (PT), o país parece rumar para o imprevisível novamente, um futuro duvidoso cantado por Cazuza.

É possível que quando este artigo seja publicado novos fatos mudem completamente ou aprofundem a situação que se encontra os bastidores do poder.

Porém, uma coisa é preciso que seja analisada. O sistema político atual faliu e junto com ele a República. Os de baixo não se sentem mais à vontade sendo governados pelos que estão em cima.

Vinte e nove anos após a aprovação da última constituição, o povo se sente cada vez menos representado ou até de forma alguma representado pelos partidos que atuam e hegemonizam a política em Brasília e no terreno local. Sejam eles vermelhos, amarelos ou azuis.

Ulysses Guimarães com a aprovada Constituição de 1988. Foto: reprodução

O desemprego bate a porta de uma geração inteira que sai das universidades, do ensino médio técnico, e não vê perspectivas de melhora na vida. Essa geração não se encontra na boa retórica do atual mandatário da nação e sua agenda econômica. Tampouco nos que já governaram.

Os desdobramentos da Operação Lava Jato, o fla-flu ideológico das redes sociais, mostram cada vez mais quão desprezíveis e vazios da grande política são os que hoje simulam situação e oposição, apenas em busca do poder pelo poder.

Independente do que poderá acontecer nos próximos dias, a necessidade de uma renovação dos protagonistas do processo político brasileiro parece mais que uma necessidade, uma ordem que pode se impor de baixo para cima.

Talvez  junho de 2013 tenha sido o ensaio para algo maior. Há qualquer coisa pairando que não se conecta com as narrativas estabelecidas pelos que estão interessados em polarizar entre tucanos e petistas os rumos do país.

Congresso Nacional ocupado em junho de 2013

Não sou especialista do campo jurídico para analisar se é possível legalmente, mas do ponto de vista do que percebo, a população vem expressando o amplo desejo de antecipação das eleições presidenciais.

Pesquisa do Datafolha em abril mostrou que 85% dos entrevistados acreditam ser essa a melhor saída para o país.

Este colunista se posiciona favorável a este cenário e a ir além das eleições e mudar o sistema político. Com uma assembleia constituinte que crie mecanismos efetivos de controle da classe política pela sociedade, para que a corrupção seja de fato combatida e representantes reais dos segmentos sociais ocupem espaços como a câmara e as assembleias legislativas, por exemplo.

O compositor Celso Viáfora já cantava que os velhos de Brasília não podem ser eternos na belíssima canção “Não vou sair”. Apesar de termos às vezes a impressão que as coisas não mudam na política e que apenas os personagens trocam de lugar para administrar as mesmas patifarias, vamos vendo esse sistema apodrecido ser questionado como nunca.

Os velhos de Brasília, de fato, não podem ser eternos. E não serão. Novamente, quem está com a palavra é o futuro.

Abaixo, a canção “Não vou sair”, cantada por Nilson Chaves e Celso Viáfora.

Diretas já!

Seles Nafes
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