JÚLIO MIRAGAIA
Julho traz consigo férias escolares e para os céus uma legião de objetos voadores plásticos, espalhados pela cidade. Quem exerce a brincadeira, quase como uma religião, desafia os ventos e os raios do sol em busca de equilibrar sua pipa em voo.
Eu caminhava no fim da tarde deste domingo pelas empoeiradas ruas do Jardim Felicidade 1, por volta das 17h, quando me deparei com o espetáculo no ar. Uma dezena de “rabiolas” atravessando a paisagem de nuvens, enquanto nas ruas a legião era de moleques descalços e descamisados, empinando com linha seus “animais artificiais”.
No céu, as pipas faziam um baile que era ao mesmo tempo um duelo. “Baile-duelo” esse que passa de geração para geração, sem que saibamos ao certo quando essa tradição iniciou como brincadeira de férias e que sabemos que tão cedo não acabará.
Apesar de ser uma diversão de garotos hoje em dia, a pipa tem já certa idade. Bastante idade, na verdade. De aproximadamente 3 mil anos, são datados os primeiros registros na China para uso religioso e folclórico. A pipa também foi usada por Marco Polo para fins militares e científicos por Benjamin Fraklin.
Porém, para essa molecada, hipnotizada por “ovaites”, talas, rabiolas e carretel, o que importa é o agora. É desafiar o sol e o vento e fazer de julho o imperioso mês em que o céu não pertence somente a pássaros e aviões. Para eles, o céu também é lugar de brincadeira.
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Em tempo: Para evitar acidentes envolvendo o uso de cerol em pipas, a prefeitura de Macapá realiza uma campanha contra a utilização do material.
Uma Lei Municipal, aprovada em 2005, proíbe o uso do produto cortante. O cerol, mistura de vidro em pó com cola, pode causar ferimentos graves e até fatais. Por isso, nunca é demais pedir para os amantes de pipas que brinquem com responsabilidade.
*Júlio Miragaia (Júlio Ricardo Silva de Araújo) é jornalista.