Exploração mineral na Amazônia: histeria no paraíso

Exploração é necessária, mas com controle, fiscalização e respeito às comunidades tradicionais
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Por SELES NAFES

Claro que não se viu nenhuma ampla discussão anterior ao decreto presidencial que extinguiu a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), mas, com certeza, também existe muita histeria a respeito do assunto.

Ao mesmo tempo em que é preciso estabelecer medidas fortes de controle e fiscalização sobre os projetos que serão habilitados para explorar o nosso subsolo, também é preciso entender que essas riquezas necessitam ser monetizadas. Afinal, realmente não estamos num museu ou num Paraíso.

Pode até parecer lugar comum, mas a exploração de minério, mesmo que dentro da floresta amazônica, vai sim gerar desenvolvimento, renda e empregos. Isso mesmo, empregos. É o que a gente precisa por aqui, depois de quase 4 anos de recessão brasileira.

Não podemos nos esquecer, no entanto, do legado negativo de projetos como a Novo Astro (Calçoene) e a Icomi. É claro que a exploração do manganês por quase 50 anos gerou desenvolvimento materializado na criação de duas cidades, Santana e Serra do Navio, esta também no coração da floresta amazônica.

No entanto, é inegável que a população do Amapá, em especial a de Serra, não estava preparada para o fim da atividade, no apagar das luzes da década de 1990. E é importante lembrar que o passivo ambiental também foi culpa do Estado, que falhou na fiscalização e dormiu também para obrigação em estabelecer as medidas compensatórias.

Icomi: saída sem planejamento e danos ambientais. Foto: Luciano Festa Mira

Mas também existem projetos bem sucedidos na Amazônia, como a Vale do Rio Doce, a Albrás Alunorte e outros empreendimentos de grande porte com a mesma finalidade que foram relativamente bem conduzidos e criaram ilhas de desenvolvimento em suas regiões.

É evidente que estes também possuem problemas. Nenhum é perfeito. Os danos, contudo, são poeira diante de tanto progresso, empregos, urbanização, investimento em saúde e educação.

Neste cenário das críticas nacionais pelo fim do decreto a que mais causa efeito é liderada pelo senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), que teve a adesão de artistas, intelectuais e ambientalistas em todo o Brasil.   

O movimento liderado pelo parlamentar tem suas razões. Afinal, não é todos os dias que se vê 4 milhões de hectares de floresta intocada sendo liberados para mineradoras, 58 já manifestaram interesse e se instalar nas terras que compreendem o Amapá e o Pará. É mesmo de assustar. 

O protesto é necessário para lembrarmos que existem outros aspectos a serem analisados e que deveriam ter sido vistos antes do decreto, editado no dia 23 de agosto. O problema é que muitas manifestações são radicais e têm tom da histeria rasa.

Porto da Albrás, no município de Barcarena: atividade intensa e desenvolvimento

É óbvio que existe um grande interesse político e econômico por trás do decreto. Sempre há. O que não está certo é abrirmos mão de gerar os empregos que a nossa gente precisa quando é perfeitamente possível liberar áreas de extração exigindo medidas que compensem os danos. Existe legislação suficiente para isso.

E vamos ser realistas: com o apoio político que Temer tem no Congresso, dificilmente o decreto será anulado. Dito isso, é preciso que esse debate liderado pelo senador force o Ibama, Ministério Público Federal, Imap, DNPM e o terceiro setor a se armarem com todos os instrumentos legais para fazer com que esses empreendimentos operem respeitando recursos hídricos, fauna e comunidades tradicionais.

Essa coexistência é perfeitamente viável, desde que o “Estado Fiscal” não negligencie seu papel por essência. 

Seles Nafes
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