SELES NAFES
O ex-presidente da Assembleia Legislativa do Amapá (Alap), o deputado estadual Júnior Favacho (PMDB), foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público do Estado por improbidade administrativa. O MP afirma que ele foi o principal beneficiário de uma propina de quase R$ 11 milhões supostamente paga pela Zamim Ferrous.
O inquérito investigou a anuência da Assembleia Legislativa para que a Zamin pudesse substituir a Anglo Ferrous na exploração e transporte de minério de ferro, em 2013. A rapidez com que a Assembleia autorizou chamou a atenção do MP e da Polícia Federal, que no ano passado deflagrou a “Operação Caminhos de Ferro”.
Segundo o promotor que comandou a investigação que originou a ação cível, Afonso Guimarães, o então governador Camilo Capiberibe (PSB) enviou Mensagem ao Legislativo no dia 15 de outubro com o projeto que previa a mudança societária. No dia 18, o ato da Assembleia dando permissão para a manobra da Zamin e da Anglo já estava publicada no Diário Oficial do Estado, ou seja, o trâmite durou apenas três dias, incluindo análise e votação em duas comissões permanentes da Assembleia.
“Se considerarmos que essa transferência de controle acionário implica em mudança de empresas para uma atividade tão importante para a economia do Estado, a Assembleia deveria ter aberto audiências públicas para que a Zamim se apresentasse para a sociedade, mostrasse segurança financeira e empresarial, mostrando capacidade para gerenciar o projeto”, ponderou o promotor durante entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (28).
O que estava por trás dessa rapidez, garante Guimarães, era uma negociação obscura nos bastidores envolvendo o lobista Carlos Daniel de Magalhães (que mora no exterior), representantes de Júnior Favacho, da Zamin e da Genpower, empresa usada para receber a propina e depois transferir o valor para o advogado Daniel dos Santos Dias, atual assessor na Câmara de Vereadores de Macapá.
“Ele (Daniel de Magalhães) não foi incluído na ação porque não sabemos
onde se encontra. As principais figuras estão na ação. (…) Lembrando que um inquérito criminal com o mesmo objetivo está sendo conduzido pela Polícia Federal”, justificou o promotor.
Durante a coletiva, o promotor, acompanhado do procurador geral de Justiça, Márcio Augusto Alves, fez uma exposição dos principais trechos da investigação que reuniu quebra de sigilo, rastreamento de cheques, depoimentos de testemunhas e dos envolvidos.
A movimentação da propina se deu a partir da conta de Daniel Dias, onde o dinheiro foi todo depositado pela Genpower. Segundo o MP, o dinheiro teve o seguinte destino:
R$ 1.638.960 teriam sido sacados em espécie;
R$ 5.531.677,75 teria sido usados em pagamentos e depósitos por meio de cheques.
R$ 3.400.800,73 saíram da conta por meio de TED/DOCs, totalizando cerca de R$ 10,6 milhões.
O MP diz ter a comprovação de que várias movimentações fazem a relação entre o dinheiro da propina e Júnior Favacho. O MP conseguiu rastrear cheques que teriam sido emitidos por Daniel Dias para pagar despesas e investimentos de Júnior Favacho, e pelo menos num episódio para o irmão dele, Acácio Favacho (atual presidente da Câmara de Vereadores), durante a negociação de um apartamento na cidade de Ananindeua, região metropolitana de Belém.
Um dos cheques emitidos por Daniel Dias, de R$ 600 mil, também teria sido pago ao empresário Jean Alex Nunes, então coordenador de eventos do governo do Estado. O dinheiro teria sido depositado para uma empresa de propriedade dele.
Outro cheque, de R$ 510 mil, teria sido pago por Daniel Dias a uma empresa de quem Júnior Favacho teria comprado maquinários para construção civil. Outro cheque de R$ 370 mil teria ido para uma imobiliária durante a aquisição de um imóvel num condomínio, também em Ananindeua, em transação feita pela empresa de Júnior Favacho.
Durante depoimento, Daniel Dias apresentou um contrato com a Genpower (laranja) onde ele constaria como representante jurídico da empresa para negociações com a CEA e a Eletronorte. As duas estatais negaram qualquer tratativa com a Genpower.
“O contrato é falso”, afirmou o promotor.
Em depoimento, Júnior Favacho negou todas as acusações, e disse que era sócio da Genpower na construção de um loteamento urbano em Macapá.
Foram denunciados:
– Júnior Favacho
– Daniel dos Santos Dias
– Marcos Antônio Grecco (proprietário da Genpower)
– Jean Alex Nunes
– Zamin Mineração
– Zamin Logística
– Anglo Ferrous Brazil
– Genpower Energy Participações Ltda
– Anglo Ferrous Logística
Na ação, o MP pede a condenação de todos por improbidade, reparação por danos morais (abandono da ferrovia), indenização por danos morais coletivos de R$ 22 milhões ao povo do Amapá, e ainda o cancelamento da anuência aprovada pela assembleia.
O portal SELESNAFES.COM procurou a assessoria de imprensa de Júnior e Acácio Favacho, mas eles ainda não se posicionaram sobre a denúncia do MP.