SELES NAFES
O drama de uma mulher com transtornos mentais foi parar nas barras da Justiça do Amapá. Há 15 anos, ela “mora” debaixo de uma marquise na área do Pronto Atendimento Infantil (PAI), em Macapá. Agora, com o local em obras, ela está dormindo há mais de uma semana na calçada, em frente ao hospital.
A situação Alice da Silva Cardoso, de 50 anos, está ligada a um drama familiar de extremo sofrimento. Quando era criança, ela morava com a família em Serra do Navio, cidade a 199 quilômetros de Macapá.
“O pai matou a mãe, e depois cometeu suicídio”, revela uma servidora do PAI que pediu para não ser identificada, e que acompanha o drama da moradora de rua.
Depois da tragédia, a menina foi adotada por uma idosa que a levou para Macapá. A senhora, no entanto, morreu aos 92 anos. Depois do falecimento, parentes da mãe adotiva venderam o imóvel, deixando Alice entregue à própria sorte.
Ela ainda tentou trabalhar como empregada doméstica e diarista, mas a doença a incapacitou. Foi então que Alice Cardoso começou a morar em frente ao PAI, há cerca de 15 anos.
Considerada por um laudo psiquiátrico como pessoa incapaz e sem vínculo familiar, ela passou a contar com a solidariedade de ambulantes e funcionários que lhes fornecem comida e água há uma década e meia.
Os servidores também ajudam com o banho, troca de roupas e pequenos diálogos. A higiene pessoal é feita com a ajuda de uma empresa de asseio, sempre aos sábados.
Ela também recebe dos servidores remédios para controlar uma infecção urinária crônica.
Alice é chamada de “Lili” pelos funcionários do PAI, que fizeram um abaixo assinado e pediram apoio do Ministério Público do Estado (MP). Em maio, a Justiça determinou que a prefeitura de Macapá fornecesse assistência e abrigo.
Depois dessa audiência, onde Alice foi representada por duas servidoras, ela começou a receber a visita de uma equipe da prefeitura, mas que não tem psiquiatra que possa prescrever medicamentos.
“Este apoio é muito superficial, visto que não lhe garante seus direitos básicos. Continua morando em frente à unidade de saúde, e está cada dia mais doente”, resume petição do Ministério Público do Amapá.
Na Justiça, a prefeitura alegou não ter abrigo, e a responsabilidade sobre Alice acabou sendo repassada para o Estado. No último dia 7, o juiz Mário Mazureck, da 2ª Vara Cível e de Fazenda Pública de Macapá, deu prazo de 48 horas para que a Secretaria de Inclusão e Mobilização Social do Estado (Sims) providencie a internação compulsória no prazo máximo de 48 horas. Contudo, até agora, nada foi feito.
Na noite de domingo (10), Alice experimentou a primeira chuva do segundo semestre. Para a sorte dela, ainda fraca.
“Ela está muito inchada, pois só dorme no chão”, diz a servidora.
O portal SELESNAFES.COM está aguardando posicionamento da Secretaria de Inclusão e Mobilização Social (Sims).