Por RICARDO FALCÃO, Prático do Rio Amazonas e vice-presidente da Impa International Maritime Pilot Association (Londres)
Durante os anos de especialização profissional na Praticagem do Amapá, tive a oportunidade de estudar e aprender como diversas áreas foram escolhidas e desenvolvidas mundo afora. A existência de um local como a região portuária do estado do Amapá, com condições ideais para o desenvolvimento de um país ou região justifica a realização de investimentos de grande porte por parte do governo federal.
A lógica primordial a ser observada quando se faz esta análise diz respeito às necessidades da carga envolvida. Somente faz sentido investir em novos portos, ferrovias, aeroportos e outras estruturas, se o objetivo for o comércio exterior, e se isto permitir que a carga em questão tenha vantagem financeira competitiva.
E isto vale tanto para importação como para exportação, pois por poucos dólares são suficientes para ganhar ou perder um mercado consumidor.
Como exemplo, o Brasil registra uma sequência de anos de produção recorde de soja, cuja expectativa é de se ultrapassar os Estados Unidos na próxima década, e que hoje já possui um custo competitivo e bem abaixo de nosso concorrente, considerando-se apenas até o momento em que esta sai da fazenda.
O problema é que, devido à extrema dependência de rodovias que fazem a ligação com os portos do sudeste (em péssimo estado de conservação), todo o esforço de produção desaparece no elevado preço final.
Enquanto no Brasil cerca de 70% da soja é transportada por caminhão, nos Estados Unidos este percentual é de 20%. Ainda por lá, cerca de 50% do transporte é feito por ferrovias e 25% por hidrovias, sendo nosso percentual de 13% por barcaças e 20% por trem.
Em linhas gerais, em países onde toda a infraestrutura é bem desenvolvida e bem regulada, ao analisarmos as vantagens de uso de cada modal, a opção de usar o trem reduz o custo de transporte em mais de 70% e o navio em quase 92%.
A BR-163, que liga Cuiabá a Santarém, é enxergada pelo governo federal como a solução para que as cargas do Centro Oeste tenham custos mais baixos; nesta opção é fácil defender um ponto: como a distância é bem menor até o porto do que as atuais vias utilizadas, o custo cairá apesar da manutenção do mesmo modelo.
Todavia, estando bem definida a área que liga o Centro-Oeste à Região Amazônica, ainda estamos falando de usar a rodovia como opção modal e Santarém como estação final. Esta solução não é a melhor e nem a mais barata.
Demonstrarei nos próximos artigos como o Amapá é a melhor solução, capaz de tornar as cargas brasileiras competitivas em qualquer mercado mundial, direcionando corretamente os esforços e fazendo opções melhores.