NATHAN ZAHLOUTH
A palavra Carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é retirar a carne. O significado está relacionado com o jejum que deveria ser realizado durante a quaresma e também com o controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de enquadrar uma festa pagã, realizada na antiguidade por povos como hebreus, egípcios, gregos e romanos.
A origem do Carnaval é questionada por vários historiadores. Em Macapá, a professora da Universidade Federal (Unifap) Mariana Gonçalves desenvolveu sua pesquisa de mestrado sobre o assunto. Na obra intitulada “Enredos da memória: história e identidade das escolas de samba em Macapá”, ela conta que a origem da festa se dá nos rituais pagãos e posteriormente a igreja se apropria. Com a separação do Estado com a Igreja e o surgimento da república, o carnaval toma, novamente, os rumos profanos se tornando uma festa mundana que é hoje.
Atualmente o Carnaval é visto pelos Estados como uma atração turística de grande potencial econômico. A maioria dos Estados disponibiliza recursos públicos para financiar parte dos desfiles das Escolas de Samba, justificando que o mesmo dá retorno financeiro, entretanto muitos questionam que este recurso poderia ser disponibilizado para Educação, Saúde, Segurança e etc.
Segundo o Pastor da Igreja Videira, Rafael Bolella, o carnaval é um enorme prejuízo espiritual e para o Estado. Para ele, a festa gera muitos incidentes como mortes e homicídios em decorrência do uso do álcool e de outras drogas que estão dispostas durante os dias de festa.
O membro da comissão de criação da Escola de Samba Boêmios do Laguinho, Alan Sales, afirma que o carnaval é algo sustentável, que gera renda, emprego temporário e retorno econômico, além de criar um ambiente festivo necessário ao povo brasileiro. Alan defende que o investimento do Estado é necessário, mas nunca foi a principal fonte que patrocinasse o evento, pois funciona como um credor.
“Quando os empresários veem o Estado financiando o carnaval, eles resolvem investir, pois é certeza de retorno financeiro para eles. Sem o investimento do Estado, fica impossível das Escolas irem atrás dos recursos privado” afirma Alan.
É fato que há muita divergência em relação à colaboração do Estado com os desfiles das Escolas de Samba. Em Macapá, este será o terceiro ano que não haverá desfile de Escola de Samba devido à falta de investimento público. Entretanto, o carnaval não para. São dezenas de blocos desfilando no mês de fevereiro nas ruas de Macapá e milhares de pessoas brincando a festa, isso sem falar da “A Banda” que é o maior “bloco de sujos” do Estado e um dos maiores do país.
Têm aqueles que preferem se resguardar e participar de um retiro espiritual ou mesmo ficar em casa durante esses dias que também são feriados para os trabalhadores. Para a professora da Unifap Mariana Gonçalves, mesmo estes participam do carnaval, pois mudam sua rotina neste período.
A Banda
O bloco de sujos chamado “A Banda” foi fundado em 1964. Neste período, o Brasil enfrentava a Ditadura Militar. Segundo o presidente do bloco de sujos, senhor José Figueiredo Souza, de 78 anos, conhecido como Savino, o bloco foi às ruas com o intuito de comemorar o carnaval protestando contra a Ditadura.
Os organizadores da época chegaram a ser presos acusados de agitadores da ordem pública e inimigos do Estado. O nome “A Banda” surge em homenagem à música do Chico Buarque, que tem o mesmo nome e era considerada hino contra a Ditadura.
Atualmente, o bloco mobiliza mais de 100 mil pessoas, número bastante significativo se comparado à quantidade da população amapaense. É considerado um dos maiores bloco de sujos do País, realizada nas ruas de Macapá na terça-feira de carnaval. Marcada pelas fantasias, onde os homens se vestem de mulher e as mulheres de homens.
Esse ano, “A Banda” contará com um centro sociocultural inaugurado recentemente com apoio do Governo do Estado, Sesi e Senai. No centro, a novidade será os atendimentos que serão feitos na manhã do dia 13 de fevereiro, terça de carnaval. Serão ofertados serviços, como corte de cabelo, massoterapia, verificação de pressão arterial, entre outros. As características políticas da “A Banda” continuam permeando as suas edições. A sua origem é de resistência ao autoritarismo e à Ditadura.
Foto de capa: Confraria Tucuju