Ágora, coluna de JÚLIO MIRAGAIA
O filme “O Décimo Homem” é uma daquelas agradáveis surpresas presentes no catálogo da Netflix. A produção de 2016 é do diretor argentino Daniel Burmán (Diário de Motocicleta e o Segredo da Felicidade) e tem duração de aproximadamente 1h20. A trama se passa na cidade de Buenos Aires, em um bairro judeu chamado “Once”.
O personagem protagonista é o economista Ariel, que passou boa parte da vida adulta em Nova Iorque e retorna para a cidade natal para ajudar o pai, Usher, a resolver os problemas da ONG administrada pela família e que presta trabalhos de caridade no bairro. O contato entre pai e filho, porém, ocorre somente por chamadas telefônicas.
Limpar um apartamento, providenciar carne para a ONG, levar remédios e sapatos para um desconhecido no hospital. Essas e outras tarefas são repassadas friamente por Usher para Ariel, que as acata ao mesmo tempo em que recorda da infância.
O economista chega em Buenos Aires tendo um relacionamento com uma mulher que está nos Estados Unidos, mas aos poucos o caminho do casal vai tomando um direcionamento tão indiferente quanto o que o protagonista tem com o pai. Surge ao longo do cumprimento de suas atividades a personagem de Eva, uma mulher que não fala por opção e que arrebata os sentimentos e desejos de Ariel.
A história oscila entre o drama e a comédia e quanto mais avança mais Ariel vai ocupando um lugar na comunidade que antes era de seu pai. De forma solitária, ele vai aprendendo a importância do legado que o patriarca de sua família tem em Once e vai lhe entregando sem que perceba.
“O Décimo Homem” é um longa que trata não somente dos problemas de uma comunidade ou de um homem. Fala de algum tipo de sentimento universal indizível, vivenciado em nossa permanente transição nesta vida. O amor, a solidão e a indiferença andam lado a lado nessa trama que nos deixa a pensar sobre nosso papel ante nossas raízes e nossos destinos.
Assista o trailer:
*Júlio Miragaia (Júlio Ricardo Silva de Araújo) é jornalista.