Ágora, Coluna de JÚLIO MIRAGAIA
O Carnaval deste ano nas terras tupiniquins pode ter uma palavra síntese: intensidade. Não pretendo fazer neste texto uma análise sobre o poderoso e politizado desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro que colocou em evidência, principalmente nos desfiles da Paraíso do Tuiuti e Beija-Flor, a crítica social como centro em tempos tão obscuros de nossa política. O resultado final, que pôs as duas agremiações nas primeiras colocações, fala por si.
Quero falar de um exemplo bem mais despretensioso de Carnaval, da nossa folia setentrional em terras amapaenses que, talvez, expresse na nossa vontade de festejar nessa época do ano, a força do nosso povo.
Em tempos de crise econômica e social, de desemprego, aumento da pobreza e tristeza como ordem, o brasileiro tem a impressionante capacidade se contrapor a esse panorama com felicidade.
Mas entremos no exemplo do Carnaval do Amapá. Este ano, tivemos um fortalecimento de um cenário de pequenos blocos de rua. O desfile das escolas de samba mais um ano não foi realizado, creio que muito mais pelo contexto do que propriamente o argumento da “falta de apoio” do poder público.
Num momento em que vários estados da federação sequer têm recursos para pagar o funcionalismo público e investir em áreas sociais, tornar um desfile prioridade do executivo estadual não parece adequado. Claro que essa é somente minha neófita opinião e que existem outros bons argumentos que se contrapõem a ela, como a geração de empregos diretos e indiretos, fortalecimento da cultura local, e etc.
Mas quero me ater sobre o Carnaval de rua, que ganhou força pela ausência do sambódromo como protagonista em Macapá e com o surgimento nos últimos anos de novas iniciativas que se apresentam com disposição para a consolidação no calendário carnavalesco do meio do mundo.
O bloco “Bora Lá Só Tu” é um exemplo desse momento. Em sua segunda edição este ano, o evento cresceu em participantes e parece ter vindo para ocupar o vazio de programação no Domingo de Carnaval entre a Veiga Cabral, Praça do Barão e Avenida Fab.
Anos atrás, “A Banda” era esperada por muitos como o único momento de folia em Macapá. Mas as coisas estão mudando, com blocos pequenos de grupos de amigos no pré, no durante e no pós Carnaval. Um fenômeno que se aplica não somente ao centro da cidade, mas também aos bairros periféricos da zona norte e zona sul. O Carnaval de Santana também, apesar de ter um perfil diferente, o da cultura dos abadás, mostra há muito tempo uma força alternativa e até relativamente mais democrática de folia.
Houve também blocos no interior do Estado, em municípios como Amapá e Oiapoque, que colocaram nas ruas um considerável número de brincantes.
Como festa popular, o Carnaval no Amapá, sem dúvida alguma, está se fortalecendo com os “bloquinhos” e blocos maiores, que já existem há alguns anos. Ao contrário do que pensam os mais pessimistas, os blocos de rua por serem abertos não deram margem para grandes episódios de violência. Durante “A Banda”, que continua a ser o ponto alto do nosso Carnaval, nenhuma ocorrência grave foi registrada pela Polícia Militar com mais de 150 mil pessoas nas ruas.
Esse novo cenário mostra que apesar do descompasso dos de cima, o povo canta e pode muito mais. Um viva ao nosso Carnaval de rua, um novo caminho trilhado em nossa cultura que muito agrada.