CÁSSIA LIMA
O amapaense Paulo Patrick Alves Barbosa, de 30 anos, se prepara para um dos maiores desafios da sua carreira. Atuante no teatro há 14 anos, ele irá iniciar os estudos em uma das mais renomadas escolas de teatro de Paris, a Cours Florent, universidade de formação profissional de atores.
Atualmente, o ator mora em Caiena, mas nasceu e foi criado no bairro Perpétuo Socorro, em Macapá. Com o nome artístico de Patrick Alves, ele conversou pelas redes sociais com a equipe do portal SELENASFES.COM
Como o teatro entrou em sua vida?
Foi assim, meus pais sempre tentaram me inserir num meio. Tentei esportes, não deu, nem cultura. Conheci uns amigos da poesia que me disseram para tentar no teatro. Fui num ensaio, e gostei. Comecei a me inteirar e conheci o diretor Geovane Coelho, meu primeiro diretor. Fui aprendendo com os outros atores e com ele.
Lembra da sua primeira peça?
Se for pensar profissionalmente, foi a Angel, com o texto de Martin Scherman. Esse trabalho foi dirigido pelo Paulo Alfaia e com um elenco muito talentoso. Fui conhecendo outras pessoas e trabalhando, até chegar aqui, na companhia Teatro Le Macouria, em Caiena.
Qual a principal diferença do teatro no Amapá para o de Caiena?
O profissionalismo, com toda certeza. Quando eu vim para cá, eu fui recebido com um contrato, com salário e um agenda de trabalho. Aqui se tem um respeito pelo profissional, coisa que nunca vi em Macapá. Aqui existe estrutura para o trabalho, reconhecimento e suporte. O governo ti valoriza, e o público também. Isso faz com que a gente queira sempre dar o melhor. Claro que o bom profissional faz isso em qualquer lugar, mas, quando você é reconhecido, isso te motiva ainda mais.
Como foi o processo de seleção para a universidade?
Quem me alertou que eu tinha esse talento foi a minha tia. Ela me disse que isso era preciso aqui e me incentivou a me inscrever no processo. Hoje, eu faço um curso de integração social aqui, para saber mais sobre a cultura, idioma e ortografia do francês.
Aqui temos uma escola de formação de atores, mas é para adolescentes. Mas, a escola de Paris, além de formar a nível superior, ela te dá uma carta de livre trabalho. É uma escola reconhecida.
Eu me inscrevi online, enviei meu portfolio e escrevi uma carta de motivação dizendo porque eu queria integrar curso. Passei por duas audições, numa delas tive que escolher textos de autores dos anos 60 e um do século quinze. Eu escolhi Molière e Nelson Rodrigues.
Quando começam as aulas?
As aulas começam no meio do ano porque o ano letivo é diferente do Brasil. Eu estou me preparando para me mudar. É uma nova etapa que nem eu estou acreditando com essas mudanças.
Você imaginava chegar a estudar na França?
Não, nunca. Imaginava estudar em São Paulo, no máximo. Mas aqui não. As coisas foram acontecendo naturalmente. Quando percebi já estava apaixonado e vindo para Caiena. E cada vez mais vivendo do teatro. E, na realidade, eu estava mais focado na melhoria do meu trabalho.
Você pensa em depois voltar para cá?
Com certeza. Eu detesto frio. Eu sei que na Europa é maravilhoso, mas eu sinto falta das coisas. Eu sacrifiquei muito a minha família pelo meu profissional. Mas eu quero voltar e trocar esse conhecimento com o Amapá. Quero fomentar o teatro no estado e buscar esse reconhecimento aí. Macapá tem muitos artistas bons e não se tem um respeito empresarial com esses profissionais, como se tem aqui.