SELES NAFES
Começa hoje, no Amapá Garden Shopping, na zona sul de Macapá, a exposição “Reminiscência”, de um dos maiores artistas digitais do Brasil, o amapaense Ralfe Braga. O evento, que está sendo organizado pela galeria virtual Arteamazon, termina no próximo sábado (5).
Além da mostra, o artista, que vive em Brasília há mais de 40 anos, está ministrando um workshop para adolescentes no CEU das Artes, na zona norte de Macapá.
Nas aulas, além de técnicas, ele repassa orientações preciosas sobre a vida, e como produzir arte mesmo em condições financeiras desfavoráveis.
Falta de dinheiro, diz ele, não é desculpa para não produzir arte, que ele também classifica como uma commoditie, jargão usado pelos economistas para explicar que um produto de origem primária pode dar origem a outros, aumentando ainda mais o rendimento do autor.
Ralfe, quando você começou a produzir profissionalmente?
Já nasci desenhando e pintando. Foi uma necessidade natural porque eu tinha muita facilidade. Mas profissionalmente foi quando saí aqui de Macapá, aos 17 anos.
Por que você saiu de Macapá?
Era preciso. A minha geração tinha que sair de Macapá para fazer faculdade em Belém. No meu caso fui direto para Brasília. Foi um tiro que acertei. Cheguei aos 17 anos, estudei, me formei e continuo estudando até hoje. O grande ponto nessa curva foi a publicidade, que naquela época ainda era muito incipiente no Brasil. Havia poucos profissionais formados na área. As agências tinham artistas natos, autodidatas. Procurei uma agência de publicidade, e a publicidade me deu ferramentas, formação e visão de mercado.
As agências usam muitas ferramentas tecnológicas…
Sim. Vanguarda tecnológica, de moda, linguagem e tendências. É um setor bem moderno e apropriado para lançar tudo o que há de vanguarda no mundo em todos os sentidos.
Quando começou a aplicação da tua arte em camisas, copos e outras peças?
Dei muita sorte. Fui para a publicidade porque tinha a ver com o meu trabalho e porque me remunerava no final do mês de forma imediata. Naquela época, artista tinha duas opções: ser artista em definitivo ou ir para a publicidade. Trabalhei mais de 30 anos na publicidade e ganhei essa expertise para pegar a minha arte e levar para produtos.
Essa tendência seria um viés para o artista que as vezes demora um mês para vender um quadro?
A arte não se encerra com a venda de um quadro. Na verdade, isso é só o início do processo. O artista de ateliê se fecha na ingenuidade de que vai apenas pintar uma obra e vender…
Mas o objetivo não é vender?
Não. O objetivo é derivar a arte dele para outros produtos, para a publicidade, para copos, camisas, bonés e outros produtos. A arte é uma commoditie que pode ser destrinchada em vários produtos. O autor vai ver que no final a mesma obra gerou muito mais renda.
Você está ministrando uma oficina para crianças no CEU das artes. Que conselho você dará para as crianças que não tem dinheiro para comprar tintas, telas e outros materiais necessários?
Falta de dinheiro não é desculpa para não viver da arte. Eu passei por cima de todas essas dificuldades. O mais importante é o talento. Depois é necessária uma orientação do que fazer com ele. O resto ele vai atrás. Reza a lenda que Picasso teve uma época em que estava pobre e saia pela praia procurando pedaços de madeira de barcos encalhados para produzir arte dele. Ele produzia tinta com mineral que ele encontrava na praia dele.
O que te inspira?
Aqui em Macapá é o povo, o rio, essa nossa floresta. Brasília também me inspira.