Crônica, por SELES NAFES
Se estivéssemos em 1972, o que o rei Roberto Carlos pensaria ao entrar no Macapá Hotel? Para quem não sabe, foi lá que ele, e tantas outras estrelas da época, se hospedaram quando vieram pela primeira vez ao Amapá.
Naquele tempo, claro, tratava-se do principal hotel da capital. O local ainda respirava o glamour da década de 1960, quando reunia políticos, empresários, servidores públicos, intelectuais e a classe média emergente.
Nos anos seguintes, o hotel seguiu a tradição e só melhorou. Nos anos 1980, foi arrendado pelo governo do então Território Federal do Amapá ao grupo Acor, poderoso dono da rede Novotel.
Foram tempos memoráveis. O então Novotel Macapá chegou a receber 3 estrelas da Embratur. Posicionado ao lado da Praça Isaac Zagury e de frente para o Rio Amazonas, não havia lugar mais agradável para se hospedar.
Era o único local onde havia quadra de tênis, e um serviço realmente sofisticado de restaurante e bar dos grandes hotéis.
O Macapá Hotel também recebia grandes eventos de negócios, os principais acontecimentos da alta sociedade, como bailes de formatura e de debutantes, e ainda hospedava os artistas nacionais.
Hoje, o Macapá Hotel continua pertencendo ao governo do Estado, mas amarga seus piores dias há alguns anos. A má fase começou em meados dos anos 1990, quando o governo não renovou a concessão do Novotel. O prédio passou a ser administrado por um grupo local que nada tinha a ver com turismo, e nunca mais foi o mesmo.
Com jeito de pensão do interior, o Macapá Hotel viu despencar a quantidade de hóspedes. Funcionários de bermudas e sandálias passaram a atender os visitantes; quartos foram alugados para pessoas que passaram a morar no hotel, que também padecia da falta de limpeza, desativação do restaurante para almoços e jantares, entre outras perdas.
Em 2013, o governo do Estado chegou a anunciar que transformaria o local num centro cultural. Isso nunca saiu do papel.
Há cerca de 4 anos, a gestão do Macapá Hotel caiu no limbo. O grupo local não teve o contrato renovado, e o lugar passou a ser administrado por um empresário que já explorava o local informalmente, num regime de sublocação.
Em 2017, o governo do Estado chegou a anunciar que o Macapá Hotel seria vendido. Nada aconteceu.
O Macapá Hotel ficou parado no tempo, e, para piorar, quem se hospeda hoje precisa conviver com festas de música alta, shows e até com um velho parque de diversões. É isso mesmo, o parque de diversões.
Os velhos brinquedos estão quase entulhados no acesso da piscina, com espaços mínimos entre um e outro. Com a música alta do restaurante externo, o que estava ruim ficou ainda pior.
A parte de trás foi alugada para um shopping para ser usada como estacionamento dos clientes em compras.
Com certeza não é o Estado que recebe pelo aluguel dos espaços. Na verdade, o Estado não recebe nem pelo aluguel do próprio Macapá Hotel. Acreditem se quiser: não há contrato de concessão. A coisa é pior do que se imaginava.
Felizmente, para os turistas, outros hotéis ocuparam a lacuna por uma questão natural. Em Macapá, há muitos turistas, mas poucos são os que vêm a passeio. A maioria pisa em solo amapaense para realizar palestras ou fechar negócios.
Nas mãos certas, o Macapá Hotel tem tudo para voltar a ser um dos principais pontos de hospedagem da capital.
Hoje, se Roberto Carlos pedisse para ficar hospedado de novo no Macapá Hotel, que já foi até palco de estupro num dos quartos, em 2016 (a vítima foi uma atleta adolescente), ele certamente se arrependeria.