Mulher que fez 202 partos diz que segredo é paciência e responsabilidade

Parteira carrega na bolsa caderno com os nomes de todos os bebês que trouxe ao mundo.
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CÁSSIA LIMA

Maria Raimunda Queiroz da Câmara, de 67 anos, anda sempre com uma bolsa em mãos. O adereço não carrega dinheiro nem maquiagens, mas um caderno, uma toca, avental, plástico, álcool, algodão e outras utilidades para um parto. Com mais de 20 anos como parteira, ela já fez 202 partos.

“Eu tenho o nome de cada um anotado no caderno”, diz, com orgulho.

Maria conta que só sabe fazer parto com a mulher deitada. Os preparativos quase sempre são os mesmos: quando começam as dores, ela dá para as mães um caribé (misturado de procedência indígena) ou um chá da semente do quiabo com folha de pimenta malagueta e raiz da chicória.

“Aí a criança vem mesmo. Tem que ter muita paciência e responsabilidade para lidar com o momento, porque não tem hora, dia, sol ou chuva. O ideal é tentar acalmar a mulher e fazer a criança sair”, conta.

Cordão usado para orações após o parto Fotos: Cássia Lima

A parteira coloca a touca e o avental, estica o plástico no chão e prepara os panos, álcool, algodão e uma oração final. Com toda a experiência que carrega, ela fala que o processo não tem segredo.

“Tem que ajudar a mulher a fazer força. Depois eu espero cinco minutos para a placenta descer, se não vier, a gente pede para a mulher soprar numa garrafa e ela desce, de certeza. Faço limpeza e corto o umbigo”, descreveu.

Após o procedimento, Maria faz uma oração para proteção da criança. (veja o vídeo)

A parteira acompanha a mulher e o filho nos dias seguintes e, depois de todo o trabalho finalizado, ela anota o nome da criança no caderno e parte para o próximo parto.

“A gente sempre tem que estar preparado e ter sono leve porque às vezes tem menino que quer nascer no meio da noite”, diz ela.

Maria Raimunda mora e atende a mulheres nos interiores do município de Porto Grande. Atualmente, ela está em Macapá para repassar seus conhecimentos para profissionais da área da saúde, participando de uma roda de conversas neste sábado (5), no auditório do Museu Sacaca. O evento marca o Dia Internacional da Parteira, criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1991.

Seles Nafes
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