Oiapoque: de onde vem a esperança?

Castigada pela buraqueira das ruas, Oiapoque tem avanços, mas patina em velhos problemas
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De Oiapoque, SELES NAFES

Não é fácil morar em Oiapoque, cidade a 590 quilômetros de Macapá. O município completou 73 anos de criação no último dia 23, e fez festa, apesar da imensidão de problemas que começam pela jornada até a cidade.

A BR-156 vem resistindo bem às chuvas. Pelo menos até agora há poucos atoleiros. A maioria dos carros consegue passar, mas há trechos em que caminhões com carga têm encontrado dificuldades.

“Estamos desde 9h. Para desviar de motoristas irresponsáveis de duas picapes precisei jogar o caminhão para o atoleiro”, explicou, ao meio-dia, o caminhoneiro Cid de Abreu.

Transportando 29 toneladas de cimento para Oiapoque, ele precisou sair da trilha mais “seca” do meio do atoleiro para evitar uma colisão. O resgate foi tão complicado que um trator que o rebocava precisou do reforço de um caminhão.

Trator e caminhão…

…puxam o carreta com cimento. Fotos: Seles Nafes

O problema maior, no entanto, são buracos. Por causa deles, são necessárias mais de 4 horas de viagem para vencer apenas 110 quilômetros da parte sem asfalto da BR-156.

Veículos e motoristas são levados ao limite. Os dois lotes, cada um com 55 quilômetros de estrada de chão, estão recebendo manutenção de uma empresa contratada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ao custo de R$ 14 milhões. 

Perímetro urbano

Nos bairros afastados do centro de Oiapoque, relativamente urbanizado, muitos moradores não conseguem estacionar os carros na frente das casas simplesmente porque em algumas ruas vários trechos estão intransitáveis, como no Bairro Nova União.

“Temos que deixar o carro na esquina”, comentou um vigilante indignado com a situação.

No Bairro do Infraero, o acesso para o Aeroporto Internacional de Oiapoque tem um atoleiro digno da BR em seus piores dias. A situação ficou ainda pior quando a prefeitura decidiu colocar aterro no local.

A orla da cidade, que já deveria ser um cartão postal e um ponto de visitação, tem tantos buracos que é quase impossível engatar a segunda marcha. 

Secretário de Obras, Gesiel Penha: 3 grandes ruas serão asfaltadas

A boa notícia é que a situação deve ser amenizada com o investimento de emendas de R$ 7 milhões. Cerca de R$ 6 milhões são do senador Davi Alcolumbre (DEM) e R$ 1 milhão do senador Randolfe Rodrigues (REDE). Numa cidade do tamanho de Oiapoque, 5 quilômetros em asfalto deverão causar um impacto positivo. Pelo menos é essa a expectativa.

“A prefeitura já está se mobilizando para o trabalho de pavimentação asfáltica em três grandes ruas, como a Veiga Cabral. A prefeitura também solicitou a usina asfáltica do governo do Estado, mas até agora o governo não se posicionou sobre a doação dessas máquinas”, explicou o secretário de Obras de Oiapoque, Gesiel Penha.

No dia do aniversário de Oiapoque, o governador Waldez Góes (PDT) informou à prefeita Maria Orlanda (PSDB) que a usina será repassada para a prefeitura.

Duas UBS foram entregues

O fato é que Oiapoque não estaria tão esburacada se a gestão anterior, conduzida por Miguel do Posto (PDT), não tivesse perdido tantas emendas. Só do senador Randolfe Rodrigues foram quase R$ 4 milhões por três anos seguidos.

A internet também é sofrível. Manter-se conectado é um desafio diário e um convite para exercitar a paciência. A OI oferece um péssimo serviço. A internet móvel é fornecida pela Claro e a TIM, mas as oscilações tiram o cidadão do sério.

Ponte

A ponte binacional continua sendo utilizada apenas pelos franceses. Para atravessar de carro, os brasileiros precisam tirar o passaporte e viajar até Brasília para conseguir o visto de permanência que dura no máximo três meses.

Ponte continua fechada…

Aduana brasileira sem utilização

Catraieiros ainda são necessários

Ainda é necessário ter o seguro veicular internacional, que custa 170 euros, quase R$ 700. Na prática, apenas os franceses utilizam a ponte. Os catraieiros, que achavam que seriam extintos com a inauguração da estrutura, continuam sendo necessários.

Luz no fim do túnel

Mas há alguns avanços. A orla de Oiapoque está sendo reconstruída pelo governo do Estado, e promete ser um novo cartão postal às margens do majestoso Rio Oiapoque, que divide o Amapá e a Guiana Francesa.

Na semana passada, a prefeitura entregou para a comunidade duas unidades de saúde reformadas, ampliadas e equipadas. As obras foram executadas com emenda do senador Davi Alcolumbre.

A Polícia Civil, graças ao trabalho de investigação e abnegação dos policiais, conseguiu baixar os índices de violência com a retirada de circulação de responsáveis por crimes, especialmente os ligados ao tráfico de drogas.

Delegado César Augusto, um dos três delegados da cidade

O trabalho é desempenhado por três corajosos delegados, como o curitibano César Augusto, auxiliado por uma equipe de agentes. O efetivo, no entanto, é pequeno, e faltam mais viaturas.

O turismo e o comércio impulsionam a economia da cidade, que poderia também estar melhor se a prefeitura já tivesse organizado sua máquina de arrecadação.

A cidade oferece bons hotéis e restaurantes com cardápios e ambientes especiais, como o Chácara do Rona, às margens do Rio Oiapoque.  

No dia do aniversário da cidade, o cidadão de Oiapoque resolveu deixar de lado os problemas para festejar, afinal, também há boas notícias. O centro da cidade ganhou um palco para shows que duraram 3 dias.

Apresentação de coral…

Palco montado no centro de Oiapoque

Bolo e esperança de dias melhores

No entorno, uma feira mostrou a cultura indígena (9 mil índios vivem na região), o artesanato e serviços. Um bolo foi oferecido para a população que, com certeza, ainda não perdeu a esperança de dias melhores.

Seles Nafes
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