ANDRÉ SILVA
O pai dos dois suspeitos mortos em uma suposta troca de tiros com a Polícia Militar (PM), na última quarta-feira (23), disse que o que aconteceu foi uma execução. A PM acusa os rapazes, um deles com passagem pelo Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) e o outro menor, de terem roubado um celular minutos antes da perseguição e de terem reagido à prisão.
O professor desempregado, Daniel Marcolino dos Santos, de 44 anos, procurou o portal SELESNAFES.COM para denunciar a ação dos policiais. Ele disse que ainda não procurou a corregedoria da PM.
Ele contou que um dia antes do fato, Antonio Gabriel Sousa dos Santos, de 16 anos, o filho mais novo, aproveitou enquanto ele dormia para pegar a moto sem sua permissão.
Segundo ele, no momento do velório dos rapazes, um amigo de Gabriel falou que ele havia ido até sua casa e ali ficou por algumas horas. O rapaz frequentava cultos da Igreja Quadrangular na casa dessa pessoa.
Marcolino conta que chegou a procurar a Delegacia Especializada em Investigação de Atos infracionais (Deiai) para pedir ajuda na busca do filho, mas que não foi atendido e mandado de volta para casa.
“O delegado disse: olha professor a gente não pode fazer nada porque é atípico. A gente prende seu filho mil vezes e mil vezes a gente devolve ele pro senhor porque não é crime. Ninguém se manifestou nem pra pegar meu depoimento”, relatou o professor.
Segundo ele, essa não tinha sido a primeira vez que Gabriel havia pegado a moto sem permissão, mas desta vez ele decidiu tomar alguma atitude.
No dia seguinte, a caminho da igreja, ele soube que Gabriel e outro filho dele, Davi Sousa dos Santos, de 22 anos, estavam mortos.
Marcolino relata que não sabe em que momento os dois irmãos se encontraram e decidiram sair juntos, mas relatou que um deles, o mais velho, estava embriagado no momento do cerco onde, além das viaturas do 6º Batalhão da PM, estava uma viatura da Força Tática e outra do Bope. Segundo o boletim de ocorrência, seis policiais teriam efetuado os disparos que mataram os suspeitos.
“Quem estava conduzindo a moto era meu filho Gabriel e penso que quando ele viu a viatura da PM, ele se assustou: poxa vão pegar a moto do meu pai e ele falou que se me pegassem na moto ele ia se prejudicar… então ele tentou se evadir. Só que os policiais não tiveram a capacidade de fazer o cerco para parar os dois garotos em uma moto. Meu filho tinha acabado de completar 16 anos”, disse o pai em pranto.
Segundo o boletim de ocorrência da polícia, com os rapazes foram encontradas duas armas, ambas com cartuchos deflagrados, e o celular que supostamente teria sido roubado.
A comunicação da PM informou que em todas as ocorrências que envolvam lesão corporal e morte, o procedimento padrão é que um inquérito para investigação do fato seja instaurado tanto pela PM quanto pela Polícia Civil.
O pai dos rapazes solicitou o exame residuográfico das mãos dos jovens. Por este procedimento, será possível saber se eles dispararam ou não as armas. O exame fica pronto em 40 dias.