DA REDAÇÃO
Pesquisas arqueológicas descobriram um conjunto de estruturas ligadas à agricultura pré-colonial, no município de Calçoene, a 300 km de Macapá. É um achado inédito no Brasil.
Segundo os estudos, é um sistema formado por pequenos montes de terra circulares, organizados em grupos ou alinhados, identificados em áreas sazonalmente alagadas que, em época pré-colonial, serviram como plataformas para cultivo. Esses locais teriam duas funções principais: criar zonas para o cultivo no ano todo (inclusive no período chuvoso) e concentrar nutrientes para uma alta produtividade.
A descoberta é dos Institutos de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa) e do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo, as entidades de pesquisa, este tipo de sistema só foi anteriormente identificado na Bolívia, Peru, Argentina, Equador, Colômbia, Venezuela e Guianas. No Brasil, é a primeira vez.
Nesses países, os sítios possuem datações de até 3.000 anos, mas ocorrem com maior frequência a partir do ano 1000 DC. Na Guiana Francesa, análises permitiram descobrir que esses locais eram usados pelos indígenas para plantio de mandioca, milho, inhame e batata doce.
Segundo o arqueólogo do Iepa, João Saldanha, a descoberta foi feita com uso de imagens de satélite, visualizando a distribuição de pequenas estruturas na forma de montes de terra em uma região de campos alagáveis, em Calçoene. “A partir do mapeamento dessas estruturas, foi montada uma expedição de campo com a participação de arqueólogos do Iepa e do Iphan, que investigou a existência desses antigos sistemas agrícolas”, detalhou Saldanha.
A descoberta ajuda a montar mais uma parte do quebra-cabeça que envolveu a construção dos monumentos megalíticos do norte do Estado do Amapá, cujo sítio ficou conhecido como “Stonehenge da Amazônia”.
Segundo a Pesquisa, a construção no novo achado exigiu grande mão de obra, organizada a partir de um sistema sociopolítico bastante complexo. “A descoberta desses sistemas agrícolas associados à presença de megalíticos dão conta dos conhecimentos sobre técnicas de plantação intensiva, do incremento econômico e do índice populacional das antigas populações indígenas que viveram no Amapá”, complementou.
Os próximos passos da pesquisa são, agora, mapear outros locais através de imagens de satélite e de uso de drones, quantificando o número e escala de trabalho que envolveu sua construção, bem com a melhor compreensão deles com os monumentos megalíticos.