SELES NAFES
Os donos de cartórios devem estar contentes. Afinal, começou a temporada de registros de intenções dos pré-candidatos, caso sejam eleitos. E mais uma vez a redução do orçamento da Assembleia Legislativa do Amapá é o tema preferido das cartas de compromisso. Não se enganem. É só olhar para trás.
Kaká Barbosa (PR), e nem qualquer outro presidente que virá depois dele, aceitará discutir o tema para valer. Foi assim com Júlio Miranda, Fran Júnior, Lucas Barreto, Jorge Amanajás, Moisés Souza e Jaci Amanajás.
Até houve recuos, mas nenhum relevante. Na prática, mise en scène para acalmar a opinião pública.
A verdade é que o orçamento da Alap, que no ano que vem será quase R$ 200 milhões, é uma fortuna para o tamanho da máquina. A assembleia tem apenas um prédio próprio. Outros três são alugados, incluindo uma garagem sem carros, na Avenida Padre Júlio Maria Lombaerd, que acabou virando depósito.
Ao contrário do Tribunal de Justiça, que possui comarcas, juízes e funcionários em todos os municípios, no caso da Alap são apenas 24 deputados com apenas 120 funcionários efetivos e uns mil comissionados. Esse pequeno universo tem um custo idêntico ao prêmio da Mega Sena da Virada.
Eu estava lembrando também que o orçamento da Assembleia já foi motivo de brigas judiciais e até de impeachment, como ocorreu com João Capiberibe ao peitar os parlamentares. Ele foi afastado e acabou voltando pelos braços da Justiça, no fim da década de 1990.
O dinheiro é tão farto que teve presidente mandando construir pista de pouso particular com dinheiro da Assembleia.
Teve época em que a verba indenizatória chegou a R$ 100 mil, por isso, a maioria dos deputados está encrencada com a Justiça, entre eles o próprio presidente Kaká Barbosa. Para escapar de um processo, ele concordou em assinar um acordo inédito na Justiça do Amapá reconhecendo o crime e se comprometendo a devolver tudo com juros e correção.
Lembram que uma diária de viagem, entre Macapá e Santana (isso mesmo, recebiam diária para ir em Santana), chegou a R$ 1,6 mil? E as centenas de notas fiscais frias e até emitidas por morto?
Agora, faltando três meses para o pleito, pré-candidatos de partidos progressistas, de centro e direita, têm jurado de pés juntos que irão combater a gastança na Alap, a nossa verdadeira La Casa de Papel, lembrando a famosa série da Netflix. Alguém ainda acredita?