SELES NAFES
Tudo na vida de Raimundo Nonato Nunes, de 70 anos, tem alguma relação com o sobrenatural. A começar pelo número da casa onde mora, no Bairro Jardim Felicidade II, na zona norte de Macapá: 1948, ano de seu nascimento.
Seu Nonato, como é chamado no bairro, talvez seja um dos últimos de uma tradição da Amazônia cada vez mais esquecida, a do benzedor.
Natural da cidade de Viana, no Estado do Maranhão, ele serviu ao Exército no Batalhão de Engenharia abrindo estradas federais. Quando chegou a Macapá, em junho de 1995, foi morar no recém-criado Jardim Felicidade II, então uma área de invasão.
Só depois de alguns anos a residência dele recebeu o número de identificação da prefeitura, fato que serviu para alimentar ainda mais sua convicção de que é uma pessoa iluminada.
Todos os cômodos da casa possuem pequenos altares com velas acesas e muitas imagens de santos da Igreja Católica. Apesar disso, ele diz que seu único padroeiro é Jesus Cristo.
Nonato não gosta de dar muitos detalhes, mas diz que sentiu que tinha dons especiais ainda na infância, depois de se recuperar de uma grave enfermidade.
Hoje, ele é procurado por moradores com os mais diversos problemas pessoais e de saúde. O caso mais comum é o famoso “mal olhado”.
Mas ele faz também o que é popularmente conhecido como “puxar” a barriga, que é quando o feto está mal posicionado no útero da mãe. Seu Nonato garante que todos os casos são resolvidos com fé e amor.
Quando o senhor descobriu que tinha esses dons?
Quando eu era muito criança. Comecei a adoecer, meu pai meu criou até que chegou ao ponto que chegou. Não foi ninguém que me chamou, foi Deus mesmo…
Mas em que momento isso surgiu?
Quando eu estava doente meu padrinho fez uma promessa pra São Gonçalo de Amarante, que é São João Batista. Daí eu comecei as ver as coisas, sonhando, tendo revelações…
O senhor é procurado hoje para resolver que tipo de problemas?
Para todo tipo de coisa. Curar pessoas doentes, pessoas tristes, é uma luz que Deus dá. Ninguém é dono disso.