ANDRÉ SILVA
Há dois anos uma casa de apoio aberta em Macapá, por um ex-dependente químico tem ajudado a recuperar vidas, antes tidas como sem solução. O local funciona com doações e mensalidades simbólicas pagas pelas famílias. Contudo, atualmente, precisa de ajuda.
A Casa de Apoio Peniel fica localizada na Rua Remos Amoras, no Bairro do Muca, zona sul da cidade. Ela foi criada pelo amapaense André Barbosa, de 39 anos. A matriz da entidade fica no Pará e foi aberta há sete anos.
Sem muitas doações, o lugar é mantido com o trabalho de rua dos internos, que andam em ônibus e por semáforos da cidade, trocando adesivos por alimentos ou pequenas quantias em dinheiro.
Barbosa descreveu sua dependência. Ele contou que o vício não apenas de drogas ilícitas, mas também ilícitas. A necessidade de parar veio com a total derrota.
“No mundo espiritual, a vitória só vem quando eu declaro minha derrota. Eu declarei que estava derrotado e que tinha perdido para as drogas, que não dava conta de ser nem um viciado. Foi quando criei o desejo de parar e ficar limpo”, conta o coordenador.
A vontade de começar um trabalho de recuperação com outras pessoas veio depois que ele passou mais de um ano internado em um centro para dependentes químicos, na capital paraense, Belém.
A entidade tem suas próprias regras, compostas por normas, espécies de mandamentos, que consistem no respeito ao outro e aceitação da sua condição de doente, que precisa de ajuda. Atualmente, em Macapá, são atendidas 20 pessoas, mas o local tem capacidade para 40.
Quem quiser ajudar a Casa de Apoio Peniel pode procurar levar alimentos. Dinheiro não é aceito.
A recuperação
Everson Nascimento, 34 anos, está em recuperação há 3 meses. Ele disse que usou de tudo, mas conheceu “o fundo do poço” depois que passou a usar o crack. Na Casa de Apoio Peniel, trabalha com artesanato, que consiste em montar miniaturas de navios dentro de garrafas. As peças saem em torno de R$ 40. O que arrecada vai para ajudar a casa.
“Eu nunca tinha passado uma semana sem fumar, agora estou há três meses. Se não fosse esse lugar, eu não sei o que seria”, relatou o interno.
Outra interna, que não quis se identificar, faz peças de crochê em barbantes. Ela conta que iniciou o tratamento recentemente, mas já sentiu a diferença. Relatou que o crack a fez fazer coisas que ela nunca imaginou.
“Comecei a roubar dentro de casa para ter dinheiro pra comprar crack, coisa que nunca imaginei fazer. Decepcionei todos da minha família, mas eles nunca perderam a esperança em mim. Esse lugar me ajuda muito. Aqui, aprendi a me conhece e ver quem eu realmente era”, avalia.
Foto de capa: André Silva/SN