OLHO DE BOTO
A Polícia Civil conseguiu desarticular um golpe que fez diversas vítimas em Macapá antes de ser descoberto. Uma mulher foi presa em flagrante no momento em que receberia o pagamento de mais uma fraude. A prisão ocorreu na tarde desta terça-feira (21).
O golpe consistia em vender um mesmo terreno diversas vezes, a partir de anúncios feitos na internet, em um dos maiores sites de compras e vendas do Brasil: o OLX.
Adriene Nascimento da Silva, de 34 anos, foi surpreendida por agentes da 7ª Delegacia de Polícia Civil, em frente a cartório de imóveis, no Bairro do Laguinho, Zona Norte da capital. Ela havia acabado de registrar assinaturas da venda de um terreno anunciado no OLX.
O reconhecimento de assinaturas, afirma a polícia, era apenas uma encenação para ganhar o dinheiro de outra vítima. Mas, desta vez, ela foi quem caiu numa emboscada. A venda era apenas uma isca, os investigadores já estavam-na monitorando.
De acordo com a delegada Elza Nogueira, da 7ª DP, as investigações começaram quando o verdadeiro dono do terreno comunicou que seu imóvel estava sendo anunciado na internet por uma pessoa desconhecida. A polícia então descobriu que uma vítima estava em negociação com os golpistas. Foi o começo da queda da fraude.
O mototaxista preso com Adriene negou envolvimento. Disse que apenas estava fazendo a corrida para Adriene. “Ela fez sinal pra mim na rua. Eu parei. Ela pediu para levar ela no cartório. Só isso”, defendeu-se.
Segundo a polícia, as negociações eram feitas por um homem, ainda não identificado, mas era Adriene quem ia receber, quando o pagamento era feito em espécie.
Vítimas
A polícia ainda não sabe quantas vezes a fraude foi aplicada, nem quantas vítimas os estelionatários fizeram. Mas, duas vítimas já se apresentaram aos investigadores. O prejuízo apenas delas chega a R$ 30 mil.
Uma das denunciantes do golpe, que pediu para não ser identificada, quase foi enganada pelos golpistas. Ela contou como desconfiou que se tratava de estelionato.
“No dia 16 de agosto eu acessei o site da OLX e vi o anúncio de um terreno para vender e o valor me chamou a atenção: R$ 15 mil. Como ficava próximo do bairro que eu morava, entrei em contato com quem postou o anúncio. Ele [um homem ainda não identificado] me passou o endereço, fui ver o terreno, no bairro Infraero 2. Quando vi o terreno, de esquina, fiquei insegura, porque o valor estava muito baixo para um terreno daquele porte. Desconfiei e decidi lançar uma proposta: uma entrada e mais uns produtos que eu ia passar para ele”, contou.
Trinta minutos depois da proposta, o suposto vendedor ligou para ela. O número tinha código de fora do estado, do Pará – outro detalhe que intrigou a quase vítima. O falso proprietário do terreno aceitou a proposta de entrada em dinheiro. O golpista redigiu um falso contrato de compra e venda. “Um contrato extremamente mal feito. A redação dizia que ele me daria as chaves depois que o pagamento fosse efetuado. Mas que chaves, se terreno não tem chaves?”, questionou a denunciante. Ela então passou a investigar a propriedade do imóvel.
Foi até o local e conversou com moradores da vizinhança. Mostrou a foto do suposto vendedor que estava no anuncio na internet e contatou que se tratava de um golpe. Um dos vizinhos então esclareceu que conhecia o verdadeiro dono do terreno e que ele estava, de fato, à venda, mas por R$ 40 mil. Na mesma hora, ela foi até a casa do verdadeiro dono, que já tinha ciência que o golpe ocorria. Eles decidiram denunciar à polícia.
A vítima então decidiu alimentar a negociação que estava em andamento e desmascarar o falso vendedor. Ela então comunicou à polícia. “Pensei em apenas bloqueá-lo e deixar pra lá. Mas, depois fiquei pensando que ele poderia enganar uma pessoa que perdesse o único dinheiro que tinha em um golpe, então decidi denunciar”, disse a denunciante.
Contudo, o que ela imaginou já havia acontecido. O falso vendedor já havia lucrado R$ 13 mil com o golpe. A vítima, um homem que compareceu à delegacia para reconhecer a suspeita, revelou que pagou os R$ 13 mil na falsa venda, através de transferência bancária. Ele só desconfiou que havia sido passado para trás porque o anúncio continuava no site de vendas.
“Eu liguei hoje [terça-feira, 21] perguntando pelo terreno e ele confirmou que tava vendendo pelo mesmo valor”, contou, indignado, o comprador enganado.
Investigação
A polícia não descarta que golpe tenha sido arquitetado de dentro de um presídio. Na OLX, o anunciante do referido terreno é “Jair Batista Campos”, que a polícia ainda investiga quem é.
A delegada Elza ressaltou que, apesar de parecer inusitada, a situação é corriqueira. Ela diz que atende quase que diariamente a casos de golpe na internet.
Foto de capa: Olho de Boto/SN