SELES NAFES
O vice-governador do Amapá, Papaléo Paes (PSD), renunciou ao cargo, nesta terça-feira (7), durante coletiva de imprensa no Palácio do Setentrião. Pivô da primeira turbulência do PDT na campanha pelo governo, Papaléo disse que a suposta carta-bomba teria sido uma brincadeira, mas fez graves insinuações sobre o secretário de Fazenda do Amapá, Josenildo Abrantes.
Papaléo começou a coletiva fazendo um retrospecto de sua carreira política, lembrando os cargos que exerceu ao longo de quase três décadas de vida política. Em seguida, repetiu o que já havia revelado antes sobre os bastidores do acordo que fez com Waldez, ainda em 2014, quando teria ficado combinado que ele seria candidato do governo ao Senado.
Este ano, no entanto, o governador teria pedido para que continuasse sendo o vice na chapa da reeleição, convite que foi aceito. Papaléo disse que começou a perceber que o novo acordo não vingaria ao descobrir que a cúpula do governo estaria influenciando “a mente cansada” de Waldez para convidar o empresário Jaime Nunes.
“Estávamos tomando café quando o secretário (Josenildo) entrou histérico dizendo que era preciso encaixar o Jaime porque não havia dinheiro para a campanha. Eu respondi que já tinha Gilvam e Lucas pro Senado, e eu para a vaga de vice. Ele (Josenildo) respondeu que eu precisava entender que se tratava de um projeto”, disse Papaléo.
Na semana passada, Papaléo Paes tornou púbica sua insatisfação, abrindo uma crise sem precedentes entre ele e o governador Waldez. Em entrevista ao portal SELESNAFES.COM, chegou a afirmar que tinha uma carta-bomba para divulgar. No último dia 4, em convenção, o PDT indicou Jaime Nunes como pré-candidato a vice-governador.
Nesta terça, Papaléo disse que foi “cassado” pelo governador ao ser impedido de disputar qualquer outro mandato nesta eleição, já que perdeu prazos por confiar na preservação do acordo.
“Se fosse uma briga física com ele (Waldez), uma semana depois já estaríamos em paz. (…) Não posso mais conviver nesse ambiente”, disse ele. A coletiva foi concedida bem ao lado do gabinete do governador.
Papaléo disse que a Operação Mãos Limpas foi uma injustiça com Waldez e sua família, e que sempre foi leal à amizade entre os dois. Ele citou um convite de empresários do Amapá para integrar um movimento que pretendia eleger um novo governador, a partir da indicação das empresas. Ele afirmou que recusou o convite.
“Sempre fui leal a ele. (…) Sempre acreditei em sua inocência. Ele sempre me chamou de amigo, irmão e conselheiro.
Podridão
Papaléo Paes disse que existe uma podridão na política do Amapá, e insinuou que secretários do governo estariam praticando atos de corrupção.
“Os secretários ganham R$ 9 mil líquidos, mas alguns ostentam riqueza nas redes sociais, com carrões. (…) Soube disso apenas agora. Não sou X-9”, justificou ele, ao ser questionado sobre uma possível omissão com esse tipo de informação.
“Escrevam o que eu estou dizendo, esse Josenildo ainda vai dar muito problema para esse governo”, acrescentou. A Secretaria de Comunicação ficou se emitir um posicionamento do secretário. O governador Waldez ainda não se manifestou sobre o assunto.
O vice-governador ainda ressaltou que a Justiça Eleitoral precisará aumentar a vigilância sobre a prática de caixa 2 na campanha, e revelou que recebeu convites para subir nos palanques e dois grupos que disputam o governo: PSB, de Capiberibe, e DEM, de Davi Alcolumbre.
Ele deixou claro que não tem problemas em subir em qualquer um dos dois palanques, mas deixou a entender que se sentirá mais à vontade apoiando o candidato do DEM.
No fim da coletiva, Papaléo Paes leu sua carta-bomba particular, cujo o teor não era o que a maioria imaginava. Tratava-se de uma carta de renúncia.
Na carta, endereçada ao presidente da Assembleia, Kaká Barbosa (PR), Papaléo diz que não era sua vontade renunciar, mas ficou sem alternativa.
“(…) Não devemos permitir que a palavra proferida como compromisso seja somente falácia que acaba violando pressupostos básicos da política”, diz ele em trecho do documento.
Com a renúncia, Kaká Barbosa, o próximo na linha sucessória, não poderá assumir o comando do governo, em caso de ausência de Waldez Góes, já que também é candidato nessas eleições. A função deverá recair sobre o chefe do Judiciário, neste caso o presidente do Tribunal de Justiça, Carlos Tork.