Herói de crianças pobres do jiu-jitsu morre do coração no Amapá

Professor lutou durante anos para ter um local fixo onde pudesse atender as crianças em risco social
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SELES NAFES

Júnior Faial não desistia nunca. Criador do projeto “Tatame Cidadão”, ele passou os últimos 8 anos tentando achar um lugar fixo para ensinar a crianças pobres de Macapá os valores da disciplina e honestidade repassados pelas artes marciais. Sem uma sede, ele chegou a dar aulas na rua. Morreu neste sábado (1º) sem realizar o maior sonho.

O atleta, que tinha problemas do coração, montou o projeto em 2011 no pátio da casa onde vivia com o pai, no Bairro dos Congós, na zona sul de Macapá. Não demorou para que o lugar ficasse pequeno para tantas crianças da comunidade, a maioria prestes a se envolver com delitos.

No mesmo ano, no entanto, o pai de Faial morreu, o que abalou o atleta. Para piorar, divergências na família o fizeram retirar o projeto da casa. Começava a peregrinação em busca de outro local.

“Ele levou o tatame lá para o canteiro central da (Rua) Claudomiro de Moraes, onde as pessoas fazem caminhada, e os molequinhos foram junto”, lembra o jornalista e professor de educação física Luiz Fábio, que também é atleta e mantém um projeto parecido com o de Faial, na zona sul.

Faial voltou a treinar mesmo após a cirurgia no coração. Fotos: Reprodução/facebook

Em 2012, Júnior Faial conseguiu permissão da direção da Escola Estadual Irineu da Gama Paes para atender as crianças do bairro na quadra do colégio. Mas o que era bom durou pouco. A nova diretora da escola achou que o jiu-jitsu poderia influenciar as crianças a brigar, e despejou o projeto.

Faial acabou voltando para o canteiro central da rua, até que recebeu convite para colocar o tatame na sede de uma associação comunitária. Também não durou muito tempo. As aulas das crianças começaram a concorrer com as atividades próprias do centro, e mais uma vez o projeto teve que voltar para o canteiro da Claudomiro de Moraes.

“A vida dele foi assim, buscando um lugar para instalar o projeto. Ele ficava andando de um lugar para o outro com esse tatame, sem um lugar fixo”, relata Luiz Fábio.

Desenho com símbolo do projeto mostra as escolhas do menino pobre

Um dos vários locais provisórios de treino

Meses depois de uma cirurgia cardíaca de peito aberto, ele foi liberado pelos médicos para voltar a treinar, mas apenas de forma moderada, o que não vinha ocorrendo. 

Neste sábado, por volta das 18h, ele estava em casa quando teve uma parada cardíaca e morreu nos braços da esposa, deixando dois filhos.

O velório está sendo realizado na Igreja Batista Memorial, na Rua Leopoldo Machado, em frente ao Macapá Shopping. O sepultamento está marcado para as 16h. 

Seles Nafes
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