SELES NAFES
A situação do produtor Gilberto Mioto, um gaúcho que resolveu apostar na produção de grãos no Amapá há cerca de 4 anos, é emblemática. Ele vai esperar mais um mês para embarcar a última safra de soja, de quase 200 toneladas já vendidas. No entanto, não há espaço no Porto de Santana para a chegada do navio que irá receber a produção da região.
Há quatro anos, quando chegaram em Itaubal, cidade a 140 quilômetros de Macapá, Mioto e a esposa estavam entusiasmados com o potencial da região, composta em boa parte por serrado.
O acesso para o Porto de Santana, partindo da Rodovia AP-70, era parte do cenário favorável, já que foi asfaltado há cerca de dois anos. Foram investidos mais de R$ 8 milhões na mecanização e aquisição da fazenda de soja, com cerca de 2 mil hectares.
Além do grãos, o casal tem uma grande piscicultura e áreas extensivas de plantio de mandioca, entre outras culturas. A família também está iniciando a produção de álcool a partir da batata-doce.
Este ano, o produtor que emprega vários moradores da região e já colheu várias safras, tenta vencer o desafio de escoar a soja produzida.
No último dia 5, o navio que embarcaria a produção da região não atracou como era esperado na Companhia Docas de Santana.
“Agora só no mês que vem”, lamentou o produtor.
“O Amapá é muito promissor, mas por enquanto é só a promessa. É muito impasse, documento de área e outras coisas que impedem a gente de se desenvolver. Sem área documentada a gente não consegue muito financiamento, por isso vamos precisar de parceiros para continuar”, acrescentou.
Segundo o vice-presidente mundial da Praticagem, Ricardo Falcão, o Amapá precisa de um porto específico para grãos.
A Companhia Docas de Santana, explica Falcão, precisa ser ampliada e modernizada, por que hoje só tem conseguido atender a exportação de cavaco.
“Além disso, precisamos de um porto graneleiro para escoar a soja e outros produtos como o minério. Entre Macapá e Itaubal existe uma área ideal para receber um novo terminal portuário que pode atender a nossa produção e a do centro-oeste”, garante.
Além de Gilberto Mioto e a esposa, outros produtores da região enfrentam o mesmo desafio. Além do escoamento, outra dificuldades são os prazos sempre extrapolados de licenciamento no Imap, que continua sob intervenção.
No ano passado, 50 mil toneladas por pouco deixaram de ser embarcadas por causa de divergências entre o Imap e o Ibama. O problema foi contornado politicamente.