SELES NAFES
O calor dentro do quarto com banheiro é sufocante. O ventilador empurra apenas o vento quente como se fosse um secador de cabelo. Não ameniza o desconforto, mas é o melhor que pode ser feito. Na sexta-feira (23), quando o gás acabou, o jeito foi cozinhar num fogareiro.
Poucos dramas são parecidos como o que vivem Marília da Silva Matos, de 33 anos, mãe de sete filhos; e o aposentado por invalidez Nedino de Jesus de Souza, de 58 anos.
Os dois não são marido e mulher. São amigos que se conheceram em situação de extrema pobreza, e decidiram se ajudar. Tendo que sobreviver sozinho depois de perder as duas pernas, ele recebeu abrigo de Marília, que até pouco tempo também não tinha onde morar depois de ser abandonada pelo marido com sete filhos, todos menores. Uma família lhe emprestou um quarto numa vila no Marabaixo IV, zona oeste de Macapá.
Marília teve o primeiro filho aos 16 anos. As sete crianças são do mesmo casamento. No ano passado, o marido resolveu fechar o quiosque de bebidas que explorava na Beira-Rio e voltou para Pernambuco, deixando para trás toda a família.
“Queria que eu ficasse com ele nas drogas, mas eu não queria”, diz ela, ao revelar que esse teria sido o motivo de várias separações antes da separação definitiva.
Um dia de cada vez
Ter o que comer é uma luta diária. Morando no Marabaixo IV, ela caminha todos os dias até a Rodovia AP-440 (KM-9) atrás de latinhas para vender. Com essa atividade, ela consegue entre R$ 35 e R$ 50 por um dia inteiro de trabalho exaustivo, o suficiente para matar a fome dos filhos, mas não para garantir outras despesas e o mínimo de conforto.
A vida ficou mais difícil quando o benefício do Bolsa Família foi suspenso até que ela faça um novo cadastramento.
“Eu agradeço a Deus por que eu estava na rua, dormindo na casa de um e de outro com meus filhos. Eu entrei em depressão, comecei a beber até encontrar o pastor e congregar com eles”, disse, referindo-se ao pastor Luiz Farias da Silva e sua esposa.
Quando indagada sobre o que esperar do futuro, a resposta sai da boca carregada de incerteza.
“Nem sei. Vamos sobrevivendo um dia de cada vez”.
O pastor espera que as pessoas se sensibilizem e ajudem.
“São 9 pessoas vivendo nesse quartinho quente que está cedido para eles. Tem um terreno para eles, e quem quiser ajudar com material (de construção) será muito bem-vindo”, comentou.
A situação de Nedino
Nedino de Jesus trabalhou por 38 anos como carpinteiro. Natural de Breves (PA), ele estava morando no interior do Amapá quando teve complicações por causa do diabetes e de uma trombose. Acabou tendo as duas pernas amputadas.
Separado há anos da esposa e filhos já adultos que moram na cidade de Santana, a 17 quilômetros de Macapá, ele encontrou em Marília uma protetora e uma parceira na luta pela sobrevivência.
Com o benefício que recebe do INSS (um salário mínimo), ele compra seus medicamentos e ajuda na alimentação dos filhos de Marília. Mas não é fácil. Uma caixa de um dos medicamentos, com 10 comprimidos, custa mais de R$ 300, e ele não consegue na farmácia pública.
Nedino está com sintomas de depressão. Chora bastante ao falar dos filhos e do futuro incerto.
“Uma família me adotou para ali, e depois consegui vir para cá. Estamos nos ajudando, mas eu preciso muito mais deles do que eles de mim”, reconhece.
A prioridade de Nedino e das crianças é por alimentos e colchões. Existem apenas dois colchões com a esponja exposta. Num deles dormem a mãe com os filhos menores. E no outro o aposentado. Quem puder ajudar pode falar direto com Nedino pelo 991100825, ou pelo telefone do pastor, que é o 99122-1500.