RODRIGO INDINHO
Após o início do processo de demissão de médicos e profissionais de enfermagem, anunciado esta semana pela Organização Social (OS) que administra a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Sul de Macapá, o atendimento passou a ser limitado. Na manhã desta sexta-feira (28), várias pessoas voltaram pra casa, algumas sem sequer passar por uma avaliação.
Tudo se deve ao atraso no repasse do governo do Estado para manutenção do contrato da empresa responsável para gerenciar os profissionais. Pela primeira vez na história da rede pública do Amapá, uma unidade de saúde de urgência e emergência poderá suspender o atendimento ou até fechar as portas.
Sentindo fortes dores pelo corpo, o açougueiro Luiz Aldenis, de 31 anos, esteve em busca de atendimento. Ele afirma que passou apenas por uma aferição da pressão arterial e foi dispensado. Sem ter como ir pra outra unidade de saúde, continuou sofrendo na frente da UPA.
“Isso aqui é só pra enfeite, já pensou? Só mediram minha pressão e me mandaram embora pra casa. É o jeito ir andando pro Buritizal, morrendo de dor, e esperar passar pela vontade de Deus, porque pelo serviço daqui tá complicado. Infelizmente, esse é o nosso Amapá”, protestou.
Morador do bairro Universidade, Elivelton Santiago, de 33 anos, levou a filha de 8 anos para tratar de dores e complicações que fazem com que ela não consiga dormir há dias. O rapaz nem sequer entrou na UPA e recebeu a informação que a criança não receberia atendimento. Ele se mostrou indignado.
“Quando inauguraram isso aqui, achei que funcionaria. Nem cheguei a entrar, o porteiro já me mandou ir embora falando que só se fosse caso de morte. Se formos pro PAI [Pronto Atendimento Infantil], eles dizem que não é com eles. É muito triste a situação da saúde do nosso Estado. Queria que fosse a filha dos governantes que tivesse ruim pra ver o que iriam fazer”, indignou-se.
O professor Aguinaldo Gonçalves, de 45 anos, acompanhou a esposa, que também não recebeu atendimento e solidarizou-se a Elivelton.
“Era para o rapaz receber a senha, abrir prontuário, o enfermeiro fazer a triagem e o médico receber para dizer se segue ou não o atendimento. O porteiro tá fazendo isso. Tá errado. Isso é grave”, comentou.
O professor relatou que buscou saber junto à direção da unidade o que estava acontecendo. Ele identificou que não tinha nenhuma cadeira ocupada, ninguém em espera e nenhum atendimento em andamento.
“A chefia informou que foi uma decisão do corpo clínico de médicos, que por decisão coletiva, decidiram restringir o atendimento somente à classificação de urgência e emergência. Só que na entrada tem um painel bem grande informando o fluxograma de atendimento que indicam os graus de classificação de risco, do azul ao vermelho. Ao meu ver, era pra todos serem atendidos, porque isso aqui é dinheiro público”, questionou.
Segundo o professor, depois de muito insistir, ele foi informado que há um movimento de greve.
“Os médicos alegam que a unidade não recebe o recurso de manutenção há cinco meses por parte do Estado, e que isso compromete o atendimento, até aí compreensível. Mas a condução tomada é que está totalmente errada. Reafirmo que eles têm que receber a todos e fazer o protocolo correto”, reclamou Aguinaldo.
O Portal SelesNafes.com procurou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para saber como ficará o repasse dos valores e sobre a limitação nos atendimentos. A pasta se posicionou através da assessoria de comunicação informando apenas que “O atendimento da UPA é de urgência e emergência”.
Fotos: Rodrigo Indinho/SN