JÚLIO MIRAGAIA
Fotos: ANDRÉ SILVA
A segunda entrevista da série “Literatura do AP” é com a escritora Lulih Rojanski. Autora do recente “Gatos Pingados”, ela conversou com a equipe do portal SelesNafes.com na manhã ensolarada de sábado, dia 9 de dezembro, em um restaurante no Complexo do Araxá, às margens do Rio Amazonas.
A paranaense de Dois Vizinhos, mas radicada no Amapá há mais de 30 anos, falou sobre sua obra, os desafios de produzir literatura na Amazônia e de algumas curiosidades em sua trajetória, conhecendo os 16 municípios, quando trabalhou no jornalismo local. Confira.
Quem é o grande leitor do nosso tempo?
O leitor hoje em dia é muito diferente do que era antigamente. No meu tempo, nossa é horrível falar isso (risos), no meu tempo da infância existia realmente um leitor de livros. Hoje o leitor tem um perfil completamente diferente. O grande leitor é o das redes sociais. O leitor de livros está se excluindo. Tem um texto que eu publiquei ontem no meu blog que fala exatamente sobre isso. É um texto aborrecido e que demonstra um descontentamento meu de que o livro, infelizmente, está desaparecendo. Se você entra numa rede social e você encontra alguém que posta “qual o livro que você está lendo hoje?” Você vai encontrar centenas de respostas “ah porque estou lendo Gabriel García Marquez, eu estou lendo Honoré de Balzac”, mas eu acho que a maioria está enfeitando bastante. Ou aquelas pessoas que respondem isso são aquelas que têm décadas de leitura, que já passaram dos 40. Acho que o leitor de livros continua lendo livros, só que esse leitor está envelhecendo, é a ordem natural da vida. E ele vai se extinguir um dia e está dando espaço aos novos leitores, de redes sociais. Eu acho isso uma lástima, porque o livro vai morrendo, vai perdendo, vai ficando pro tempo do “era uma vez”.
Como a literatura entrou na sua vida e quais foram suas influências?
Eu acho que sou uma grande leitora porque eu iniciei a minha leitura muito nova. Não li literatura infantil, não me ofereceram quando era criança. Minha família não tinha essa cultura. Era uma família de pessoas muito simples. Eu mesma me introduzi na literatura porque teve um interesse natural. Foi uma coisa que veio com a minha natureza, naquela vocação para ler e escrever. Sempre tive vontade de escrever desde cedo, embora não tenha começado muito cedo. Então comecei a ler bastante a partir dos 12 anos, 13 anos, eu comecei a devorar livros. Não tinha o que eu não gostasse, desde o “Bolsa e Livro”, os livrinhos de bolso, aquelas edições baratas, histórias de faroeste, eu devorava aquilo. E depois veio aquela série de livros, de romances bem comerciais, que era “Júlia”, “Sabrina”, eu lia tudo isso. Na minha adolescência, entre 16, 17 anos, no ensino médio, começa o interesse pelos clássicos da literatura brasileira. Foi aí que eu comecei a ler José de Alencar, Machado de Assis, e me apaixonei realmente. E por ali, já comecei a conseguir estabelecer uma diferença entre aquilo que eu lia e o que eu estava começando a ler de 17, 18 anos. Foi aí que eu comecei a me apaixonar por uma literatura com qualidade maior e começou o desejo de escrever. E começa assim, você começa a fazer pequenas anotações, baseadas naquelas inspirações que você está vivendo na juventude, repleta de emoções e descobertas, os romances, os primeiros amores. Então começou a surgir aquela necessidade de começar a colocar no papel. Com 16, 17 anos comecei a escrever em versos, pequenos poemas, que se perderam no tempo. São produções juvenis que acabei jogando fora, que ficam esquecidas e depois disso, até chegar realmente a uma publicação, demorou um tempo. Lá pelos 25, 26 anos, até eu acho que um pouquinho mais, foi que eu comecei a participar de concursos literários.
E como foi essa experiência em concurso?
Isso eu já morava aqui em Macapá. Participei de concursos de São Paulo, em São José dos Campos. Fiquei sabendo de uma fundação cultural, Cassiano Ricardo, que estava promovendo anualmente um concurso de prosa e verso. Então eu escrevi o que considerava uma crônica, mas depois eu descobri que não era uma crônica, era um conto, um conto chamado “Nina”, e esse conto foi selecionado. Não era um concurso que escolhia primeiro, segundo terceiro lugar, eles faziam uma seleção do que tinham gostado, dos melhores, e eu entrei nessa seleção de vinte ou trinta contos, que era o livro. E aquilo, para mim, posso considerar o maior incentivo que tive, foi o primeiro concurso que participei. Eu tenho um exemplar dele guardado no arquivo pessoal e a partir daí continuei participando e depois, nos anos posteriores, eu selecionei mais dois contos que foram “Preâmbulo das Horas”, o terceiro foi “Margaridas para Amália”. Os três são coletâneas que tenho no meu arquivo pessoal. Os três da mesma fundação e foram todos leitura obrigatória do vestibular da Unifap, posteriormente. Isso tudo continua sendo um incentivo muito grande. É o que Mário de Andrade dizia, todo escritor acredita no valor daquilo que ele escreve, toda pessoa que escreve acredita no valor do que escreve. Mário de Andrade diz que se a pessoa mostra é por vaidade e se ela esconde é por vaidade também. Para mim não interessa se tem a vaidade ou se não tem. Eu acredito no valor daquilo que eu escrevo. Acreditei desde o início, nas diversas publicações.
O que é literatura para Lulih Rojanski?
Olha, eu posso responder não só como escritora, mas como professora de língua portuguesa e literatura brasileira. Eu acho que a literatura é o grande instrumento que a gente tem de formar um cidadão crítico, de formar um cidadão com potencial de civilidade, e aquela coisa que a gente sonha de construir um mundo melhor. Eu acho que a literatura é um dos grandes instrumentos para isso. A gente vê tanta gente perdida hoje, tanto adolescente, tanto jovem perdido. Você vai avaliar a vida de um jovem desse, não tem leitura. Não que a literatura seja a tábua de salvação de tudo, mas com certeza é um instrumento que pode salvar muita gente de muitas situações. E já partindo para uma situação pessoal, para mim, a literatura já funcionou sim como uma tábua de salvação, para várias situações. Quem não vive na vida um momento de depressão? Quem não vive os mais diversos problemas pessoais, psicológicos? E a literatura sempre representou salvação para mim. Mergulhar na leitura não é somente palavra, mergulhar na leitura é mergulhar em outro mundo. Quando você mergulha de cabeça na leitura de um livro, de um bom romance, de um Gabriel García Márquez…(silêncio). O Gabriel García Márquez já me salvou de muitas situações que eu precisava superar. Superar problemas e superar a mim mesma. E eu mergulhei na leitura e foi o que me salvou. Então o que eu acho da literatura é isso, cumpre muito esse papel. Tem muito aquela coisa da diversão, do lúdico, mas acho que, fundamentalmente, a literatura tem esse poder de instruir para tudo.
E sobre o que Lulih Rojanski gosta de escrever?
Gosto de inventar histórias, mas todo mundo que inventa histórias está sempre baseado em alguma coisa da sua própria vida, da sua experiência pessoal. Eu gosto de escrever sobre os mais diversos temas. Gosto de escrever sobre vida, morte, amor, desamor. A minha temática preferencial é essa, sempre colocando uma personagem aqui, uma ali. Eu não tenho hoje o hábito de escrever contos longos, embora eu tenha a intenção de fazer nos próximos anos, um livro com um conto um pouco mais longo, diferente de “Gatos Pingados”, que tem contos curtos. Hoje tenho histórias iniciadas que podem ser romances, mas ainda está faltando a grande vontade, o grande impulso, ainda está faltando.
Fale sobre o último livro, Gatos Pingados. É somente sobre gatos?
Na verdade não é sobre gatos, são personagens gatos. Eu escrevi histórias que têm os gatos como personagens. Mas são sempre histórias pequenas. Ao mesmo tempo, tem o gato como personagem, é sempre uma história de morte, de amor, de desamor. É sempre uma história assim, mas que tem o gato como personagem. Mas nem todas. Algumas.
O que a levou a escrever sobre tantos personagens que são … gatos?
Olha, eu acho que é o amor mesmo. Eu acho que se eu não dedicar minha vida à literatura eu dedico minha vida aos gatos porque, realmente, não é pra todo mundo entender que é uma grande paixão na minha vida. Eu tenho assim, essa presença dos gatos. O gato é um animal que me inspira, não sei nem como explicar, mas é basicamente isso. É um animal que no meu dia a dia eu converso, com quem eu troco idéias. Eu não sou uma pessoa de muitas relações sociais. Eu tenho a minha família, com quem eu convivo diariamente e são essas as pessoas com quem eu convivo. Claro que eu tenho a sala de aula, trabalho na sala de aula, mas eu não sou uma pessoa que tem um grande círculo de amigos. Tenho minha família e os gatos. Tem muito escritor que tem essa onda com os gatos e para mim isso é uma coisa muito forte e os gatos me inspiram demais.
E sua primeira obra, “Lugar da Chuva”? É uma experiência que descreve muito da paisagem do Amapá.
Foi assim, eu não posso dizer que eu tive uma paixão à primeira vista pela Amazônia. Na verdade, a minha entrada na Amazônia, para mim, foi um choque. Até os 18 anos eu era uma adolescente habituada a uma vida muito diferente da vida na Amazônia, principalmente nas áreas urbanas. Eu falo de onde eu vim morar, num interior, área de muita floresta, área de muitos garimpos. O comércio era baseado na compra do ouro. Então para mim era muito diferente do que eu estava habituada a viver. Não foi amor à primeira vista. Mas eu comecei a gostar da Amazônia, acho que por causa da minha natureza que é sensível às coisas que me cercam É isso que me levou a ser escritora, essa sensibilidade para ter vários olhares pras coisas que me cercam. Então vim para Macapá, de Itaituba [no Estado do Pará]. Morei perto do Jesus de Nazaré, ali perto de onde era o Fisk [escola de inglês]. Comecei a gostar até perceber que era completamente apaixonada pelas coisas daqui. O rio é uma das coisas que à primeira vista as pessoas se apaixonam. Eu sou muito apaixonada por esse Rio Amazonas, eu tenho um contato muito íntimo com o verde, com árvores. Eu gosto desse contato íntimo com a floresta. Um belo dia eu descobri certa vocação jornalística. Não sei se você sabe, eu trabalhei mais de dez anos na área de jornalismo. Nunca tive formação, mas trabalhei nessa área. Foi numa época que se permitia que as pessoas trabalhassem como jornalista sem ter a formação. Trabalhei num jornal chamado “Folha do Amapá”, onde o editor era o Elson Martins. Nossa, foi uma época de muito aprendizado, de grandes oportunidades para viajar e conhecer o Estado todo. Hoje eu digo que poucos amapaenses conhecem o Amapá como eu conheço porque eu conheço os 16 municípios. E conheço as áreas indígenas, as reservas biológicas, florestais, eu conheço tudo. Eu já andei por esses matos. Conheço tudo quanto é rio, mato, eu conheço. E quando eu comecei a fazer essas viagens comecei a relatar isso, sempre fazendo as minhas anotações pros textos jornalísticos e anotações à parte, que era onde eu colocava a coisa mais emocional, já era o texto literário. Eu fazia dois textos. Aquele que ia pro jornal e aqueles que eram anotações pessoais, que eram guardadas. E dessas anotações surgiu esse livro aí, que são crônicas que eu fazia nessas viagens. Tem viagens por terras indígenas, por vários municípios, viagens por dentro dos rios. E é um livro muito apaixonado, que fala com muita paixão de todos os lugares de onde passei.
Em Pérolas ao Sol, o trecho “O Voo da Garça” também é repleto de experiências amazônicas, só que no Pará.
Depois desse livro [Lugar da Chuva] surgiu um novo de crônicas que se chama o “Voo da Garça”, só que não consegui editar. A gente tem essa dificuldade, infelizmente. Era bem mais longo e mais completo [Lulih abriu o Pérolas ao Sol justamente na parte de o Voo de Garça]. E quando foi para editar o Pérolas ao Sol, eu capturei as crônicas que eu mais gostava e lancei aqui, em uma sessão que se chama o “Voo da Garça” e que fala dessas histórias da minha entrada na Amazônia, na travessia da selva. Quando eu vim do Paraná para a Amazônia, eu conheci a Serra do Cachimbo, no Pará. Atravessei numa caminhonete. Aqui eu faço esse relato. Forlândia, que eu conheci, onde o Ford desenvolveu o projeto dele de extrair a borracha, conheço tudo isso, que rendeu texto. Foi uma vivência na Amazônia que rendeu muito texto. O Lugar da Chuva é uma declaração de amor pela Amazônia.
Qual a melhor forma do escritor se comunicar com o público?
Essa é a vantagem das redes sociais, trouxe essa grande facilidade para a vida da gente de você poder mostrar aquilo que está fazendo. É um instrumento fantástico. Você, em pouco tempo, consegue alcançar um mundo enorme de pessoas que ficam sabendo daquilo que você está produzindo. Acho que tem a vantagem hoje de se usar as redes, é como a gente se comunica melhor, porque a imprensa não se interessa por literatura. Eu lancei esse livro, Pérolas ao Sol, em 2007, e não saiu em lugar nenhum. E claro, que a gente tem que correr um pouco atrás disso e divulgar. Pelo menos o jornalista tem que saber o que você está fazendo pra que ele vá até você e tente fazer alguma coisa, uma divulgação. Mas as tentativas que fiz eu acho que não foram suficientes, não foram profícuas porque eu não tive divulgação. Com Gatos Pingados a mesma coisa… Agora eu vejo que eu tenho um reconhecimento por parte de estudantes. O fato das minhas crônicas terem sido leituras do vestibular em alguns anos faz com que, eventualmente, estudantes me procurem. Agora, no círculo de escritores, não tenho muita penetração.
E a literatura amapaense, como você avalia o cenário de hoje?
A produção literária do Amapá tem muita coisa boa. E é uma pena que a gente não tenha projeção para o que é publicado aqui. A gente não vê a produção local ser distribuída nacionalmente, um autor local ser projetado nacionalmente, no grande círculo de escritores. Tivemos a realização da Feira de Livros do Amapá, que foi um momento muito bom pra ter contato com escritores e editoras de fora, eixo sul, sudeste, que são os que mais aparecem. Tem muita gente nova surgindo nesse cenário. Percebo que os estudantes pensam que o escritor é um cara morto. O escritor é sempre um cara que já morreu. Hoje tem a juventude se interessando, principalmente, por poesia. Temos em Macapá nos últimos anos um renascimento da poesia. Por exemplo, o Tiago Quingosta, também a Ane de Carvalho que é uma menina que escreve muito bem. A gente tem vários exemplos de jovens que estão resgatando e escrevem muito bem. Gosto muito do que o Paulo Tarso Barros faz. Acho que ele é um autor de uma sensibilidade singular, tanto na poesia quanto na prosa. Ele escreve as duas coisas. O Fernando Canto também. Eu gosto de todos os livros do Fernando Canto. Leio todos os livros dele. O Mama Guga, acho que foi o último que ele publicou. Eu participei do lançamento, levei o livro pra casa. São coisas que eu aprecio muito, desse toque regional. Essa coisa de explorar as coisas míticas e místicas daqui. Gosto muito disso na literatura dele. Eu gosto do Marven Junius Franklin, estou conhecendo agora. Ele é um poeta que para mim é uma revelação fantástica. A cada poema que eu leio no Facebook, eu me encanto porque é completamente diferente daquilo que estou acostumada a ler. Ele tem outra linguagem, ele “viaja”. E não tem limite pra viagem dele. Traz elementos pra poesia que eu não vejo ninguém mais fazer. Ele fala de reminiscência, de infância, mistura com fatos lá do nazismo. Não lembro de um verso agora pra exemplificar, mas acho uma mistura muito criativa, gosto muito do que ele escreve.
E quais os desafios hoje para o escritor de primeira viagem no Amapá?
Sempre vão esbarrar no problema da projeção, tem que cada um correr atrás ao seu modo. A gente não tem incentivo de poder público e, ao longo da história, o artista sempre precisou do auxílio do poder público. E claro que nessa história alguns acabam se comprometendo politicamente, criando um vínculo com o poder e governo, mas independente disso, de qualquer modo, o artista necessita. Veja o caso do escritor. Sem o auxílio do poder público ele vai procurar uma editora e vai receber muitas recusas, principalmente um autor que mora no Amapá. Primeiro que ele é do norte do Brasil. A nossa literatura tem pouquíssima projeção. Lá onde estão as grandes editoras, no sul e sudeste, ninguém conhece autor do Amapá. Os autores do Amapá não têm seus textos publicados em grandes jornais. Não tem um blog de projeção. Então é assim, somos desconhecidos e as editoras não acreditam. Que retorno comercial eles vão ter com isso? Não tem, então por isso as editoras não se interessam. A gente tira o dinheiro do próprio bolso pra ter essa satisfação pessoal de ter o trabalho publicado, dar vazão a esse trabalho que a gente tem. Mas não é todo mundo que pode fazer isso. Desembolsar para publicar um livro. O livro é caro. Eu fiz depois de muitos anos publicando com a mesma editora esse livro [Lugar da Chuva]. Eu paguei totalmente pela edição. Tive auxílio do poder público na época, o auxílio do governo. Nos outros, não tive auxílio nenhum. Quando fui publicar Pérolas ao Sol, eu já tive uma parceria com a editora. Foi uma divisão dos custos, o que já foi uma vantagem. Inclusive nessa parceria ficaram com a responsabilidade da distribuição. Gatos Pingados está começando agora. Teve ótima distribuição. Pessoas de vários estados entraram em contato, me mandaram e-mail pra elogiar, disseram ter gostado muito. Compraram na livraria Cultura, em Curitiba, na Saraiva, em São Paulo. Então isso me trouxe uma satisfação muito grande. Quando eu percebi o quanto era bacana essa parceria com a editora.
Quais os principais acontecimentos literários na sua vida?
Um deles foi uma viagem que eu fiz para participar do lançamento de uma coetânea da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, em São José dos Campos, em São Paulo. Era o lançamento de um livro que tem a minha primeira publicação. De um conto chamado “Nina”. Para mim, que até então nem acreditava no que eu fazia, tinha esperança, claro, mas não tinha aquela confiança absoluta que as pessoas iam gostar, foi maravilhoso. Ter sido convidada foi muito representativo pra mim porque deu grande energia para continuar escrevendo. Outra coisa foi meu encontro com o Thiago de Mello, em Macapá. Acho que foi no aniversário do Val Milhomen, na Fortaleza. Não recordo agora. Ele é uma pessoa muito sensível. Sabe que o poeta tem uma grande lábia, não é? Ele fala e te convence daquilo que está dizendo porque sabe exatamente a palavra que tem que utilizar. Mas, independente disso, se foi lábia dele ou que estava gostando da conversa, mas ele disse assim “você é uma pessoa iluminada, uma pessoa que tem muita luz. Eu percebo a sua luz no que você me pergunta, eu percebo o amor que você tem pela Amazônia naquilo que você diz. Quando ele disse isso pra mim, eu disse “meu Deus do céu”. Eu to sendo elogiada pelo Thiago de Mello. Foi uma coisa que me marcou. É um evento pessoal, é uma história pessoal dentro da minha carreira literária que me marcou muito. Outra, eu fui escolhida para ser a patrona da segunda feira literária do Amapá. O nome certo é patronesse, mas as pessoas dizem “patrono” e “patrona”. E isso foi muito legal, um reconhecimento local. E meu nome foi escolhido por uma comissão. Uma pena que essa feira tenha acabado depois de três edições. É uma perda lamentável porque os novos autores foram instigados por conta dessa coisa da feira de livros. Eram atividades literárias levadas para escolas, regiões ribeirinhas.
Quais os planos de publicação no futuro e o que anda escrevendo?
O escritor gostaria de viver da literatura, mas quem pode viver da literatura hoje em dia? Quem pode viver é o autor que já batalhou duzentos anos pra construir seu nome e que talvez consiga um bom contrato com a editora e viva de literatura, mas a gente continua na batalha. Talvez um dia eu chegue lá. Continuo escrevendo crônicas, estou escrevendo um livro de contos. Eles não têm nome ainda. Lancei os dois últimos em anos consecutivos, então talvez em 2019 eu pule porque tenho que dar mais uma trabalhada no material de crônicas, em 2020, ou final de 2019. Tem um de contos que não tem data prevista. É um material totalmente diferente. São contos sobre várias mulheres que fazem parte da história. Então eu pego a história dessas mulheres e romanceio, reescrevo. Claro que respeitando a história que elas viveram não mudo o fato que é histórico, mas eu acrescento detalhes, de bastidores daquele momento, então reinvento uma história.
Que mensagem pode deixar sobre a importância da leitura?
Eu acho que as pessoas, não só o adolescente, o adulto, as crianças, precisam ter leitura. Ninguém vai escrever bem hoje se não tiver grandes livros em sua vida. É preciso leitura para tudo. Você precisa ter contato com os livros. As pessoas hoje estão deixando cada vez mais de lado, têm os novos instrumentos e novas tecnologias, então faça boas leituras, que seja na internet. É o que vai te auxiliar para tudo. A leitura que vai fazer de você um cidadão com senso crítico. É a literatura que vai fazer você ter uma melhor compreensão de mundo. O incentivo nas escolas também. Hoje o professor precisa ter a preocupação de incentivar a leitura e produção de texto. Aí é que ela vai conseguir formar um aluno bem instruído. Que vai sair da escola sabendo interpretar sua própria vida.
Assista.
Perfil da escritora
Lulih Rojanski tem 52 anos, é formada em letras pela primeira turma da Universidade Federal do Amapá (Unifap), em 1991. Atualmente, é professora de língua portuguesa e literatura brasileira na rede estadual. Nasceu na cidade de Dois Vizinhos, no Estado do Paraná, e é casada com o jornalista e professor Silvio Neto. Tem descendência paterna polonesa e materna italiana.
Viveu em Curitiba até os 18 anos e mudou com a família para a Amazônia, na década de 1980, para a cidade de Itaituba, no Pará, onde o pai passou a trabalhar como agricultor.
Mudou-se, em 1986, para o Amapá, com 20 anos, com o então marido, o escritor Ademir Pedrosa, com quem teve três filhas.
“Já estou louca pelos meus netos (risos), mas não pra ser uma avó sossegada, pra continuar minha atividade literária, continuar participando dos movimentos e engajando os netos também”, disse a escritora.
Seus livros publicados são: Lugar da Chuva (2001); Abilash (2010); Pérolas ao Sol (2017); e Gatos Pingados (2018).
*Júlio Miragaia (Júlio Ricardo Silva de Araújo) é jornalista.