Por GESIEL OLIVEIRA
Lembro-me em memórias que se delongam pelos idos de 1990, quando eu tinha apenas 12 anos. Na minha família o meu apelido era “burguês”, nunca entendi direito a real motivação kkkk. Mas nessa idade, era membro de uma família de 8 pessoas. Passávamos uma dificuldade financeira muito grande. Meu pai (Pr Nery Ferreira, de saudosa memória) na época dirigia uma igreja evangélica, mas ele trabalhava voluntariamente, e durante o dia se virava como fotógrafo para dar sustento a tantas bocas.
Minha mãe era dona de casa dedicada aos seus filhos. Tínhamos duas bicicletas muito velhas, uma barra forte vermelha do meu pai e uma Caloi, modelo Ceci, cor rosa da minha mãe. Quando íamos para a igreja meu pai chegava a levar, além lógico dele, mais 3 filhinhos. Minha mãe também levava a mesma quantidade. Às vezes precisavam fazer duas viagens. Eu gostava quando eles brincavam de corrida, era divertido demais naquelas tranquilas ruas do bairro Pacoval, de uma Macapá diferente desta. Mas um tio nosso que sempre comprava carros velhos, resolveu indicar a compra de um “carrão” ao meu pai, que de imediato começou a vender mais fotos, dobrou o trabalho para guardar o que tinha, e começou a Catar todos as moedas para adquirir aquele que seria nosso primeiro carro. Nessa época eu consegui uma bolsa de estudos na escola de Inglês Fisk. Eu era o mais pobre da turma. Só tinha gente rica, fina e linda. Nessa época eu era apaixonado por uma menina da minha turma, mas claro que era uma paixão platônica, já que ela nunca soube. Vocês vão entender lá adiante porque estou explicando esse detalhe.
Bem, voltando a compra do nosso “carrão”, me lembro que era uma manhã de sábado do mês de agosto, quando me acordei com uma euforia dentro da nossa humilde casa: “tá chegando, tá chegando, gritava minha irmãzinha Lene”. Eu perguntei: “Mas o que tá chegando?”, ao que meu outro irmão Gedielson disse: “o carro novo do papai”. Corremos ansiosos pra frente de casa. Lembro-me que cheguei a chamar meu amigo Max para vir ver conosco nosso carro que estava chegando. Isso aconteceu na Av Marcílio Dias no Laguinho entre as Ruas Odilardo Silva e Jovino Dinoá, e de longe eu vi aquela nuvem de fumaça e um barulho enorme: “pou-pou-pou-pá!”, era sempre essas notas que se repetiam invariavelmente quando aquele carro funcionava. Era o nosso carro que estava chegando: Um fusca branco, que em 1990 já tinha uns 25 anos, sem cintos de segurança, com os bancos com molas expostas, com o banco do motorista soldado em uma posição fixa, volante com uma folga gigantesca, sem freio, dentre outros detalhes assombrosos.
Lembro que precisávamos “bombear” várias vezes para que o freio começasse a responder. Interessante que nosso primeiro carro era tão velho que já veio com o mecânico, o Seu Pará (que não sei se ainda é vivo), um velho alegre, moreno, “zuador” e sempre coberto de graxa. Quando nosso carro estacionou em frente de casa eu coloquei as minhas duas mãos no ouvido, o barulho das aceleradas era ensurdecedor. O “Seu Pará” dizia que tinha de dar três grandes aceleradas antes de desligar o motor para carregar a bateria e garantir a partida quando fosse ligá-lo novamente. Em meio a muita fumaça, tosses, olhos vermelhos, nos abraçamos, porque agora tínhamos um carro, foi emocionante. Quando eu entrei no fusca pela primeira vez, reparei que quando passávamos em uma poça de água, respingava na minha perna no banco do carona, olhei debaixo do tapete e vi que tinha mais buracos que um queijo suíço. Mas tudo bem, pelo menos agora não vamos mais andar a pé. Tenho tantas histórias para contar desse nosso fusca velho que vou precisar de três artigos para contar a vocês tudo que vivemos dentro daquela “máquina” kkk. Continua no próximo artigo.
Foto de capa: ilustração
Seles Nafes