Por SELES NAFES
O portal-voz do Greenpeace no Brasil, Thiago Almeida, reafirmou, nesta terça-feira (29), a existência de um “sistema recifal” com presença de esponjas e rodolitos (algas calcárias) na costa do Amapá, exatamente no local onde a petroleira Total pretende explorar petróleo. A tese da ong, contudo, encontra resistência em parte da comunidade científica, e, principalmente, no meio do setor econômico da região.
O Ibama já rejeitou cinco vezes, com recomendação do Ministério Público Federal, a liberação de licença ambiental para a perfuração dos poços. O instituto alega que a petroleira de origem francesa não apresentou plano de emergência adequado para funcionar em conjunto com outros países que poderiam ser atingidos por um eventual vazamento de óleo.
O Greenpeace defende que numa área de 56 mil quilômetros quadrados, em linha quase contínua que vai do Maranhão à costa da Guiana Francesa, existe um sistema de recifes com corais, esponjas, algas e outros seres vivos.
Esse sistema vivo estaria a 135 km da costa do Amapá, a uma profundidade de 220 metros. A ong iniciou varredura fotográfica na área a partir de 2017.
“Em 2018 a gente mergulhou num dos blocos da empresa (Total) e encontramos um banco de rodolitos. Toda pesquisa do Greenpeace foi feita com ajuda das maiores universidades do Brasil. Desde 2017 tudo o que fazemos é baseado em métodos científicos, e com informações compartilhadas com a Marinha”, explicou o porta-voz da ong.
A negação de alguns setores sobre a existência do sistema de recifes, segundo Thiago Almeida, é preocupante porque representa, também, uma tentativa de desqualificar as expedições científicas do Brasil.
“Me surpreende também porque a própria empresa colocou em suas últimas versões do estudo de impacto ambiental a existência desses recifes. Preocupa porque o questionamento as vezes é feito sem base científica, na era da fake news”, acrescentou.
Já o geógrafo Gesiel Oliveria, que tem pós-graduação na região costeira do Amapá e é autor de livros sobre o assunto, cita os estudos sobre a foz do Rio Amazonas feitos por PHDs da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Segundo ele, a quantidade de sedimentos que o Rio Amazonas despeja no Oceano Atlântico, formando o que os especialistas chamam de “pluma”, inviabiliza a passagem de luz do sol e outras condições necessárias para a existência de vida marinha na Foz do Amazonas.
“Os corais são organismos vivos que se produzem e precisam da luz solar. Os pesquisadores reunidos no Pará em dezembro, e em janeiro aqui no Amapá, disseram que esse sistema não existe. Esses dados do Greenpeace foram coletados por um submarino amador. (…) O que existem são formações calcárias, onde não há vida”, frisou.
“A Total pretende explorar petróleo a 2,7 mil metros de profundidade, e a 50 km da costa. Mesmo que houvesse algum vazamento, está sendo ignorado o movimento das correntes que levariam para o Golfo do México, isso nem tocaria no Amapá”
“Mesmo assim o Ibama, induzido pelo Greenpeace, já negou a licença várias vezes e a empresa já foi embora. Enquanto isso, municípios da região estão sobrevivendo de FPM (Fundo de Participação dos Municípios)”, acrescentou Gesiel. “A Total ia investir R$ 2 bilhões”, concluiu.
O porta-voz do Greenpeace rebateu dizendo que o sistema de recifes supostamente descoberto na foz do Amazonas se reproduz por reação química, e não por fotossíntese.
Ele negou que o Greepeance tenha influenciado as decisões do Ibama.
“A rejeição das licenças foi pela falta de resposta de emergência e impacto em outros países. Não foi por ameaça ao sistema de recifes. Vamos ter uma discussão honesta. Não é o Greenpeace falando, são estudos comprovados publicados nas revistas científicas mais respeitadas do mundo. São pesquisas que vêm atuando há mais de 20 anos na área”, comentou Thiago Almeida, que está cumprindo uma agenda em homenagem ao Dia Mundial dos Corais (28 de janeiro).