RODRIGO INDINHO
“Minha filha não é traficante, como inventaram por aí. Ela é uma criança que estava sob cárcere privado”.
Com lágrimas nos olhos e visível indignação no semblante, esta foi a declaração mais enfática do pai da menina de 12 anos encontrada, nesta quinta-feira (3), sob o efeito de drogas, com marcas de violência física e sexual, e aprisionada por quatro homens, em um apartamento no bloco 14 do conjunto habitacional Macapaba 2, na zona norte de Macapá. O caso chocou a comunidade.
Roberto Carlos, de 51 anos, pai da criança, aceitou conversar com o Portal SelesNafes.com. O motivo da declaração, explicou, é o receio da filha passar de vítima a cúmplice dos quatro suspeitos presos no apartamento onde a criança foi localizada. Um deles é menor de idade e os outros três ainda não tiveram as idades nem as identidades reveladas. A polícia age com cautela na apuração.
De acordo com Roberto, a menina estava desaparecida desde as 22h do dia 1°. A polícia ainda apura as circunstâncias nas quais a garota teria sido feita refém dos suspeitos. Mas o pai da menina afirma que testemunhas informaram, durante as buscas, que ela foi abordada e rendida com uma faca quando caminhava pelo conjunto.
Desde então, a família passou a fazer buscas por conta própria e com auxílio da Polícia Militar (PM). Após desconfiar do paradeiro da menina, o pai diz que foi chantageado por um dos envolvidos.
“Vendo meu desespero na procura por ela, um deles me disse que saberia onde a minha filha estava e me pediu drogas para passar a informação. Não aceitei e informei à polícia”, revelou.
Ao chegar no apartamento indicado, Roberto foi informado pela mãe de um dos suspeitos que foram presos logo depois, que a menina não estava no local. Uma pessoa então passou a informação que confirmava a localização, afirma o pai da menina.
“Uma adolescente disse: ‘conheço tua filha e eu vi ela gritando, pedindo socorro’, quando chegamos lá com a polícia, reconhecemos a sandália dela e os quatro estavam com minha filha presa dentro do quarto”, lembrou, emocionado, Roberto.
Ele ressalta que, ao contrário do que estão divulgando em redes sociais, o apartamento não estava abandonado, e que a mãe do adolescente sabia do caso.
“Queria perguntar a mãe dele se ela não tem dor na consciência. E se fosse a filha dela? Ela defende, dizendo que o filho não tem nada a ver. Então como minha filha foi encontrada dopada na casa dela? Quero justiça, porque eles têm que pagar pelo crime, para que não voltem a fazer com outras meninas lá de perto”, indignou-se.
Sobre a menina, o pai disse que ela contou que vivia sofrendo ameaças de morte. Foi encaminhada à Polícia Técnico-Científica (Politec) do Amapá, no final da tarde, para passar por exames que poderão ou não comprovar o abuso.
“Aos meus amigos quero dizer que minha filha está bem. A quem não nos conhece, minha filha não bebe e nem fuma, muito menos é traficante. Só eu sei o desespero que passei. Espero que ela um dia se recupere desse trauma”.
Três homens foram encaminhados para a Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM) e o adolescente apresentado, já na presença de um advogado e sua família, na Delegacia Especializada em Investigação de Atos Infracionais (Deiai).