Por SELES NAFES
Aos 40 anos, o sargento Michel Santana é um dos 7 bombeiros do Amapá que atuam nas buscas às vítimas do rompimento da barragem da Vale, na cidade de Brumadinho (MG).
Foi a equipe do Amapá, inclusive, que localizou e resgatou o corpo da administradora de empresas Fernanda Damian, de 30 anos. A brasileira veio da Austrália com o noivo para anunciar a gravidez de cinco meses à família.
O corpo do noivo, Luís Talibert Silva, de 33 anos, já havia sido encontrado. Os sogros dela e a cunhada também estavam na pousada quando o rompimento da barragem liberou um tsunami de lama e rochas matando 169 pessoas e deixando mais de 140 desaparecidos.
Militares do Amapá
Nascido na cidade de Campo Grande (MS), o sargento Michel Santana completou 10 anos no Corpo de Bombeiros do Amapá em 2018, e faz parte da Força Nacional. No auge dos trabalhos, Brumadinho chegou a ter mais de 400 bombeiros de todas as partes do Brasil.
Há 22 dias no local da tragédia, a equipe inclui um cabo, quatro sargentos e dois tenentes especializados em buscas e resgates em estruturas colapsadas, em alagamentos, enchentes e soterramentos. Os militares do Amapá também são treinados para atuar em deslizamentos nos mais variados tipos de relevo.
Apesar de todo o preparo, é preciso ser firme para lidar com as cenas chocantes de Brumadinho. As emoções são fortes sempre que vítimas fatais são descobertas na lama, especialmente crianças.
Em entrevista ao Portal SN, nesta terça-feira (19), o sargento narrou momentos chocantes e difíceis nas buscas que acontecem na lama, em profundidades que variam entre 3 e 12 metros.
Existem corpos inteiros ou as vítimas foram dilaceradas pela força da lama e das pedras?
Existem os corpos inteiros. Esse que foi identificado na semana passada, de uma mulher grávida que veio da Austrália e estava na pousada, foi a nossa equipe do Amapá que encontrou.
Como estava o corpo?
Estava conservado, com os cabelos longos, roupas, pertences pessoais como joias, mas, obviamente, estava bastante machucada. Foi difícil a localização e a extração. O corpo estava sob o tronco de uma árvore numa área profunda de um grande lamaçal. Foi necessário serrar a árvore para retirar o corpo com cuidado.
Como a equipe se sentiu encontrando uma mulher que estava grávida?
Existem situações tocantes. Temos treinamento para isso, mas as situações com crianças são as mais difíceis. Encontrar uma mulher grávida é chocante, mas encontrar partes de crianças é ainda mais triste e terrível. A associação aos nossos filhos e sobrinhos é imediata. As crianças são mais frágeis e indefesas. A criança, pela sua inocência, franqueza e por tudo aquilo que ela representa, gera uma comoção muito mais difícil.
A equipe do Amapá encontrou partes de crianças?
Infelizmente. Situações terríveis…
Que partes encontraram?
Pernas, pés, cabeças…
Quais as idades?
De 3 anos a 8 anos.
Há quanto tempo vocês estão aí em Brumadinho?
Há 22 dias. Lembrando que o efetivo de bombeiros do Amapá hoje, à disposição da Força Nacional, é de 18 militares distribuídos em missões por todo o Brasil
Vocês têm folga?
Temos uma escala de serviço, não temos folga. Quando a equipe não está na lama, ela está de sobreaviso se preparando para retornar ao trabalho.
Quando vocês voltarão ao Amapá?
O ministro (da Justiça) Sérgio Moro assinou portaria estabelecendo que a Força Nacional ficará aqui até o dia 12 de março, porém, existem as fases da operação. A primeira fase foi de socorrer os sobreviventes. A segunda foi de buscar os mortos, e agora estamos nas escavações. São 20 km afetados pela lama. Estamos num trabalho muito meticuloso de máquinas e uso de cães farejadores.
Sua família acompanha o trabalho aí?
Eles têm me acompanhado no dia a dia, mas só repasso o que é possível para não transmitir nenhum estresse.