Por SELES NAFES
Um patrimônio que custou R$ 484 milhões, sem nunca ter sido utilizado, foi parar no fundo do Rio Amazonas, na madrugada desta terça-feira (12), no município de Santana, cidade a 17 km de Macapá. O porto flutuante da Zamin começou a adernar na tarde de ontem, e afundou completamente nas primeiras horas desta manhã. Por enquanto, não há informações sobre vítimas.
A Marinha do Brasil confirmou o acidente ao Portal SelesNafes.Com, e disse que está avaliando possíveis riscos para a navegação, especialmente de navios cargueiros.
“Os responsáveis não estavam cuidando adequadamente dessa estrutura que alagou. (…) Por enquanto não oferece perigo se permanecer na posição em que está, mas isso ainda vamos analisar com mais cuidado. O próprio governo do Estado e Corpo de Bombeiros estão se mobilizando para resolver isso o mais rápido possível”, comentou o comandante da Capitania dos Portos no Amapá, Fernando Cézar da Silva.
O Porto Flutuante da Zamin foi construído exatamente no mesmo lugar onde, na madrugada de 28 de março de 2013, o porto construído pela Icomi há mais de 60 anos desabou matando seis operários da mineradora indiana.
A Zamin havia acabado de adquirir o direito de exploração do minério de ferro que era da britânica Anglo American, e já estava utilizando o porto para escoamento do ferro de Pedra Branca do Amapari quando o acidente aconteceu.
O evento paralisou o setor mineral, quebrou dezenas de prestadoras de serviço da Zamin e resultou no abandono da estrada de ferro do Amapá. O caso virou uma ação judicial que está sendo analisada por uma vara de conflitos empresariais no Estado de São Paulo.
Tecnologia e abandono
Logo após o acidente, a Zamin comprou um novo porto flutuante com tecnologia de última geração na Holanda, país considerado a elite da indústria náutica e portuária mundial.
O porto foi trazido desmontado em balsas, e construído pela empreiteira Mendes Júnior. A empresa, no entanto, acabou abandonando os trabalhos antes da conclusão da montagem por falta de pagamento, segundo apurou o Portal SN.
O engenheiro mecânico Manuel Romero, que trabalhou durante 30 anos na Icomi e se tornou especialista no porto, explica que o novo porto flutuante da Zamin não tinha nenhum tipo de vigilância. Por isso, ladrões invadiram várias vezes a balsa que sustenta o porto para furtar bombas, fiação elétrica e outros componentes elétricos da estrutura.
O compartimento que dá acesso ao interior da balsa, chamado de “tampa de visita”, ficou aberto durante toda a estação chuvosa.
“A balsa é como se fosse uma gigantesca caixa que os ladrões nunca se preocuparam em fechar. (…) Então, com a chuva constante, o local foi enchendo, e a água foi para o local mais baixo. Ali cabem 6 mil toneladas de água. Esse peso só de um lado, com a maré baixa, fez a estrutura perder o equilíbrio. Com a vazante não tinha mais a água de fora neutralizando a água de dentro”, explicou.
O Portal SN tenta contato com o comando do Corpo de Bombeiros do Amapá.