Por RODRIGO INDINHO
Quem pensa que boneca é coisa de criança se engana. Para dona Antonina Santana Gurjão, de 105 anos, é uma terapia. Apaixonada por bonecas, ela se tornou colecionadora há mais de três décadas e cultiva essa paixão dentro da própria casa, com as mais de 600 bonecas que ‘moram’ com ela no Bairro do Muca, na zona sul de Macapá.
Apesar da idade avançada, a centenária mãe de 8 filhos continua muito lúcida e lembra que na infância não teve nenhuma boneca para brincar porque tinha que trabalhar na roça com seus pais, na região do Bailique, comunidade ribeirinha a 150 km de Macapá.
Dona Antonina ganhou sua primeira boneca, de nome “Dominick”, aos 70 anos de idade de uma professora. Ela conta que a partir daí as doações só aumentaram.
“Depois disso outras pessoas me deram sacolas com bonecas da Xuxa, bonecas de seus 15 anos e até bonecas boas e outras danificadas, que peguei e ajeitei. Sempre perguntavam se era aqui que a ‘vovó da boneca’ morava e deixavam o presente”, lembra.
A simpática vovó das bonecas também ganhou doações de vários retalhos de pano e começou a fazer as roupas das “amigas” na velha máquina de costura da família.
“Aceitava os retalhos e fazia as roupinhas das bonecas na minha máquina. Pegava também retalhos de Carnaval. Ainda tenho retalhos, mas já não consigo enxergar muito bem, quero fazer, mas não consigo”, comentou Antonina.
Ao Portal SelesNafes.Com, a colecionadora falou o que sente pelas bonecas.
“Quando recebo as bonecas fico feliz, tranquila e grata pela nova companhia. Tenho um cuidado especial com as bonecas, beijo, abraço e converso. Aproveito para agradecer as centenas de pessoas que já me doaram e ainda me doam. Fico muito alegre”, finalizou a “Vovó das bonecas”.
Com o amor e a quantidade de bonecas crescendo, os filhos de dona Antonina criaram um local para conservá-las. O filho, José Maria Gurjão, de 60 anos, conta que é o mínimo que a família faz para retribuir todo esforço que a mãe fez por todos.
“Tem uma frase dela que não me esqueço até hoje: ‘meus filhos se vocês estudarem a gente pode sair daqui pra um lugar bem melhor, eu acredito em vocês’. Então migramos, nos formamos e somos funcionários públicos federais e estaduais. Ela veio pra cá em 1985 com meu pai e só trouxeram essa máquina de costura”, disse José Maria.
“Quando chegou aqui, ela se identificou com a primeira boneca, aí foi chegando mais. Meu pai faleceu há 4 anos. Vimos que essas bonecas são um bem estar pra ela, uma terapia. Então damos apoio e construímos esse espaço para vê-la feliz. Temos orgulho de nossa mãe”, acrescentou.
A família diz que quem quiser conhecer dona Antonina ou doar alguma boneca pode entrar em contato pelo (96) 99966-1042 ou ir até a 4ª Travessa da Avenida dos Tamoios, número 20, no Bairro do Muca.