Por JOELMA RIBEIRO DOS SANTOS*
No estado do Amapá, temos percebido o crescimento nos índices de suicídio e comportamentos de autoflagelo (automutilação) entre os adolescentes, identificado principalmente nos consultórios de psicologia e nas escolas: e muitos são os questionamentos sobre esta demanda.
É notável que estamos vivendo em uma geração mais fluída, onde tudo é para o agora e as mídias, as redes sociais, a forma com as pessoas expõem suas vidas “perfeitas” instigam uma busca intensa pelo imediato, como diz Bauman: “Seria imprudente negar, ou mesmo subestimar a profunda mudança que o advento da modernidade fluida produziu na condição humana”.
Diante disso, nota-se a alteração na forma em que as famílias estão participando do desenvolvimento das crianças e dos adolescentes; onde para alguns pais as exigências de proporcionar tudo que não teve no passado para seus filhos, perde-se na qualidade das relações e como estas estão ocorrendo.
Crianças que perderam a essência do brincar, trocando o mundo real pelo virtual, tendo a seu dispor todas as tecnologias mais modernas, mas que não suprem a carência afetiva, o toque, o laço e o diálogo. Crianças e adolescentes que se tornaram verdadeiros analfabetos emocionais, não desenvolveram as habilidades necessárias para lidar com os “nãos” da vida, com a rejeição, com a frustração e com limites.
Sabemos que a adolescência é uma fase de desenvolvimento complexa, onde a personalidade, a identidade ainda se encontram em construção e com isso ocorrem inúmeras mudanças físicas, afetivas, comportamentais, cognitivas e emocionais.
A família possui função primordial na transição da infância para a adolescência, e este contexto pode se tornar tanto de risco, como de proteção. A forma como ocorrem as relações familiares está diretamente relacionada com a maneira que o sujeito constitui sua personalidade, sua identidade e se apresenta na sociedade.
Tem-se percebido que a falta de afeto, respeito, empatia, diálogo, limites, abusos, contribui de forma significativa no comportamento de autoagressão e no desenvolvimento de sofrimento psicológico, depressão, isolamento, entre outros.
O comportamento de autoagressão na adolescência tem sido definido através de estudos como um sintoma multifatorial que inicia com a prática de cortes, queimaduras, mordidas, entre outras formas e que pode apresentar fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais e até mesmo comportamento suicida.
Neste sentido a observação das mudanças no comportamento como isolamento, tristeza, choro frequente, vazio existencial, sensação de inutilidade, perda da autoestima, perda da vontade de realizar atividades que praticava antes como um esporte, sugerem um acompanhamento mais adequado como a busca pela ajuda profissional para que essa família seja assistida.
É necessário que a criança desenvolva desde cedo sua inteligência emocional aprendendo a perceber suas emoções e a forma de lidar com elas, pois de acordo com Daniel Goleman, o indivíduo desde sua construção necessita desenvolver quatro elementos fundamentais para a inteligência emocional, que são autoconsciência, autogestão, empatia e habilidade social.
E reforço que diante de qualquer identificação de sofrimento psicológico é fundamental que se busque atendimento na rede estadual de atenção psicossocial, na micro-rede de assistência a crise suicida e seus parceiros, nas clínicas escolas das faculdades e nos consultórios de psicologia.
Também se faz necessário maior sensibilidade de nossos gestores para que se desenvolvam maiores e melhores políticas públicas de enfrentamento ao suicídio crescente de adolescentes em nosso estado, precisamos trabalhar com dados estatísticos reais para prevenção e imediatamente serem vinculados à rede de atenção a saúde mental.
Para contribuir socialmente com esta crescente demanda, estamos disponibilizando plantão psicológico exclusivo para adolescentes, gratuito no Centro de Especialidades no município de Santana, localizado na Av. Maria Colares nº 1053 – Hospitalidade, toda quinta-feira das 08:00 às 12:00 e 14:00 às 18:00, realizando a escuta da demanda, orientações, alternativas de acompanhamento, encaminhamentos e outros.
*Psicóloga CRP-10/05864
Foto de capa: internet