Por OLHO DE BOTO
Usando uma nova tecnologia de mapas via satélite, a Delegacia do Meio Ambiente (Dema) da Polícia Civil do Amapá vem contrariando a informação de que o Estado mais preservado do Brasil não sofre com desmatamento.
Utilizado pela polícia amapaense desde junho de 2018, o aplicativo Global Forest Watch (GFW), software do americano World Resources Institute (WRI), tem provado que o Amapá sofre, sim, com degradação ambiental. E os dados apontam que a floresta padece silenciosamente: mais de 5 mil focos de desmatamento foram localizados em 10 meses de uso da tecnologia via satélite.
O titular da Dema, delegado Leonardo Brito, já está no 50º inquérito policial por degradação ambiental desde quando começou a utilizar o software. Antes disso, as ocorrências atendidas pela Dema se resumiam à poluição sonora, na área urbana, e briga por terrenos, na região rural.
“Cerca de 90% dos nossos casos eram de perturbação do sossego, vizinhos reclamando de som alto, ou briga por posse: um denunciante apontava que o outro havia invadido o seu terreno”, relembra.
Agora, a realidade é diferente. A ferramenta é precisa. Até o nível de erosão de solo, a delegacia tem monitorado. Também é possível detectar queimadas quando elas ainda estão ocorrendo. Até um garimpo ilegal foi descoberto através dos mapas. O aplicativo também faz o monitoramento online móvel, pois é compatível com sistemas operacionais de smartphones.
“Temos conhecimento de todos os desmatamentos e queimadas do Amapá. Hoje é possível fazer prisões ainda em flagrantes. Nas últimas operações, apreendemos 11 armas de fogo, usadas para caça ilegal, 12 motosserras, quatro caminhões carregados de madeira, produtos oriundos de degradação ilegal da floresta.”
Brito explicou a diferença do GFW para os sistemas nacionais oficialmente usados no monitoramento ambiental. Conforme ele, normalmente, os softwares usados pelo governo brasileiro detectam degradações em áreas acima de 25 hectares.
“Recentemente, o ministro do Meio Ambiente ventilou a possibilidade de adotar um sistema que detectasse abaixo disso, mas a contratação necessitaria de um investimento de R$ 33 milhões. O sistema que a gente utiliza é gratuito, não tem nenhum custo para a Polícia Civil, nem para o Brasil, e ele nos aponta degradações a partir de 30 metros quadrados. É o que basta”, comparou.
Evasão de divisas
A Dema descobriu que a madeira extraída ilegalmente nas florestas amapaenses estava sendo enviada, sem pagar qualquer imposto aos governos estadual ou federal, para países como Estados Unidos, Bélgica e China, ou era comercializada no Nordeste brasileiro – região grande produtora de móveis artesanais.
“A exploração sustentável existe e é legal, mas as nossas ações e o nosso monitoramento têm descoberto explorações clandestinas e nós estamos agindo”, ressaltou Leonardo Brito.
Segundo ele, o conhecimento de como identificar crimes ambientais na tela de um monitor, através dos mapas gerados pelo software, será compartilhado com outras polícias do Brasil. Basta que elas despertem o interesse em usar a ferramenta.
“Inicialmente, a Polícia Civil de Rondônia teve esse interesse e virá até Macapá para compartilharmos tudo que sabemos, inclusive o acesso ao satélite através do sistema. O Parque Estadual do Desengano, do Rio de Janeiro, já atua com nossas orientações. Também estamos em conversações com o Estado do Tocantins”.
Atualmente, segundo o delegado, a equipe da Dema precisa cobrir 142 mil quilômetros quadrados de floresta, uma área equivalente, em extensão, ao tamanho do Nepal – país asiático. Para isto, dispõe apenas de duas viaturas e um drone.
“Nós temos a ideia de que o Amapá não é desmatado. Ele é, sim. Mas, agora, isto está sendo monitorado e a Polícia agora tem como agir”.
Sucesso
O trabalho de combate ao desmatamento desenvolvido pela Dema tem chamado a atenção não somente das outras polícias brasileiras, mas também de ONGs e sites ambientais. Recentemente, a atuação da Dema foi destacada no Mongabay News, portal especializado em noticiais ambientais, sobre ciência, energia e design ecológico, incluindo estatísticas de desmatamento mundiais.