Por SELES NAFES
O que o médico aposentado Paulo Amorim faz pela preservação das espécies da Amazônia e a educação ambiental, especialmente de jovens e crianças, é um sacerdócio impagável com altas doses de sacrifício pessoal há pelo menos duas décadas. Quase sem apoio, ele mantém vivos e protegidos mais de 200 animais, apesar de uma situação que fica cada vez mais insustentável.
Ao todo, 220 animais vivem na Revecom, uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN) às margens do Rio Amazonas, na cidade de Santana, município de 17 km de Macapá. O acesso é pela famosa Vila Amazonas, residencial construído para funcionários da Icomi há mais de 60 anos.
A Revecom sempre precisou de apoio para se manter, porque a receita gerada pelas visitas nem de longe é suficiente para manter salários de funcionários, alimentação, veterinários, medicamentos, energia elétrica, impostos, limpeza e outros cuidados de manutenção.
O custo ideal para ter equipes completas de trabalho, calcula Amorim, seria de R$ 30 mil. Contudo, a reserva tem funcionado com cerca de R$ 19 mil.
Entre 2004 e 2011, a Revecom recebeu subsídio do Estado, mas há quase 9 anos não tem qualquer apoio do governo. Do poder público, o único apoio sai da prefeitura de Santana, um convênio de R$ 15 mil que já venceu, mas está prestes a ser renovado.
Na iniciativa privada o Supermercado Santa Lúcia doa verduras, legumes e frutas, cerca de uma tonelada por semana. É preciso pagar o frete semanal para buscar essas mercadorias.
A Amcel e a Cianporte também ajudam.
“Como o convênio com a prefeitura ainda não foi renovado, estamos com os salários atrasados atualmente. Tivemos a prestação de contas aprovada e agora falta pouco para assinarmos o novo convênio”, comemora Amorim, com certo alívio.
Mesmo assim, falta. Muitas vezes o complemento sai da aposentadoria dele (por invalidez) de R$ 5,4 mil.
“O carro da reserva está há oito meses parado esperado conserto. Só a energia elétrica dá R$ 1,6 mil. Somos um estado produtor de energia, exportamos essa energia, mas pagamos caro”, desabafa.
Estragos
Além da sobrevivência, a Revecon ainda tenta se recuperar dos estragos do forte vendaval que atingiu a reserva em 2016. Os ventos derrubaram muitas árvores em cima de logradouros destruindo viveiros dos animais. Alguns precisaram ser soltos.
Outras árvores caíram em cima da maloca onde aconteciam palestras com estudantes, e ainda destruíram uma bela casinha de pedras, outra atração da reserva que os visitantes adoravam fotografar.
As extensas passarelas de madeira também foram afetadas, e nunca foram recuperadas totalmente.
“R$ 250 mil em prejuízos”, calcula o proprietário.
“Com as mudanças climáticas os ventos continuaram fortes nos anos seguintes, e tivemos o agravamento dessa situação”, acrescenta.
Madeireiros da região têm doado material, mas ainda serão necessários cerca de R$ 50 mil para recuperar todas as passarelas dos visitantes.
Aulas
Entre os 220 animais da Revecom, estão jabutis, araras, macacos, um gavião real, porcos do mato e uma jaguatirica.
Apesar de tudo, a Revecon continua sendo um belo santuário, local frequentado por estudantes da rede privada e pública. Ao chegar, a maioria não sabe sequer identificar árvores típicas da nossa região, e Paulo Amorim adora ensinar.
Os meninos voltam para a sala de aula mais sábios. O que parece não mudar é a situação da reserva e de seu exército de um homem só.
Contatos com a Revecon: 99971-2155