Alvo de investigação, BR-156 Sul é a “Rodovia das Valas”

Condições da BR-156 Sul contrastam com o dinheiro gasto com a manutenção da rodovia
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Por SELES NAFES

Enquanto a Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam o pagamento de propinas em contratos de manutenção de rodovias federais no Amapá, viajantes se arriscam em valas gigantescas no meio da estrada, entre a região sul do Estado e a capital. A buraqueira endêmica completa o cenário de destruição, numa rodovia que teve contrato de manutenção até março deste ano, a BR-156 Sul. Mas nem parece.

Quem parte de Macapá em direção ao Jari enfrenta a buraqueira descomunal logo nos primeiros 500 metros da jornada sem asfalto, que começa no KM-21, na bifurcação com a BR-210. Serão mais de 200 km até Laranjal do Jari, o terceiro município mais populoso do Amapá.

“Em alguns trechos é preciso passar com 10 km por hora, porque eu tinha que passar em cinco buracos ao mesmo tempo com o carro na transversal”, lembra o servidor público Leandro Leite, que na semana passada levou mais de 8 horas para chegar em Laranjal em sua Pajero.

“A estrada quase inteira é desse jeito, devastada”, acrescenta. E não é por falta de dinheiro.

Ao longo da jornada estão bem visíveis as placas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que na última quinta-feira (28) foi alvo da “Operação Pedágio”, deflagrada pela PF e MPF.

O superintendente do órgão, Odinaldo de Jesus, foi preso preventivamente, e depois exonerado do cargo. O ex-superintendente, Fábio Vilarinho, que dirigiu o órgão durante quase cinco anos, também foi detido. Os dois são acusados de cobrar propinas para agilizar pagamentos e certificar a realização de obras, incluindo as de manutenção. Mais de R$ 22 milhões em bens foram bloqueados no patrimônio dos investigados.

Lote 1 começa em Laranjal do Jari, e recebeu R$ 8,5 milhões para manutenção. Fotos: Leandro Leite

Lote 2: R$ 4,5 milhões por manutenção em 60 km

Lote 3: R$ 4,5 milhões

Contratos

Para contratar os serviços de manutenção, o trecho sem asfalto da BR-156 Sul foi dividido pelo Dnit em 3 lotes. O lote 1, de 60 km de extensão, vai de Água Branca à sede de Laranjal do Jari. O valor da manutenção: R$ 8,5 milhões.

O lote 2, também de 60 km, foi contratado por R$ 4,4 milhões; e o lote 3, de 61 km, por R$ 4,5 milhões. O contrato foi de dois anos, começando em março de 2017 e vigência em março de 2019.

Ou seja, em tese, os três trechos mais críticos da BR-156 Sul receberam manutenção para aguentar o período chuvoso nos últimos dois anos, mas essa informação contrasta com as imagens.

Risco na maior parte da viagem

260 km de sofrimento

Pajero Full não suportou

As valas no meio da pista são um desafio para os motoristas mais experientes. A buraqueira toma conta de toda a malha. Não há para onde desviar, e são pouquíssimos os trechos bons.

Se nem uma Pajero Full 4×4, veículo 12 vezes campeão mundial em ralis, é capaz de terminar a jornada inteira, imagina então os carros mais populares, que são a maioria trafegando pela rodovia.

 

Seles Nafes
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