Médico e equipe são indiciados por morte após cirurgia plástica

Polícia concluiu que morte de professora ocorreu por procedimento em local irregular e feito por médico não habilitado. Defesa nega
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Por SELES NAFES

A Polícia Civil do Amapá indiciou o médico Sérgio Augusto dos Anjos Brito pela morte da professora Elza Pimenta Carvalho, de 46 anos, após uma cirurgia plástica ocorrida em 2017, em Macapá. No inquérito, o médico tentou responsabilizar um hospital particular pelo falecimento.

No dia 25 de abril, Elza Carvalho deu entrada na Clínica Dr. Brito, na Avenida FAB, Centro de Macapá, para ser submetida a uma mamoplastia. Durante o processo, ela teve uma parada cardiorrespiratória, foi reanimada e levada para um hospital, onde teve nova parada e foi reanimada. No dia seguinte, contudo, ela morreu na UTI.

O caso foi investigado pelo delegado Abraão Almeida, da 9ª Delegacia de Polícia da Capital. Para ele, o procedimento cirúrgico teve várias irregularidades. Com base em diligências e depoimentos, o delegado concluiu que a mamoplastia foi a causa da morte.

“Restou comprovado que a mamoplastia foi realizada por profissional não habilitado para este tipo de cirurgia; com a ausência de anestesista ou cirurgião auxiliar; em local com diversas irregularidades”, comentou.

Delegado Abraão Almeida: profissional não era habilitado e local indevido. Foto: André Silva/Arquivo SN

Além de Sérgio Brito, dois técnicos de enfermagem que atuaram como auxiliares foram indiciados por homicídio simples. Brito também foi indiciado por estelionato.

“O médico se intitulou como cirurgião plástico, não possuindo tal especialidade, em contrato de prestação de serviço mediante contraprestação pecuniária de R$ 7,6 mil”, justificou Abraão Almeida.

Outras irregularidades

O contrato de prestação de serviços é citado pelo delegado como outra irregularidade. Segundo ele, o documento é assinado por um enfermeiro que nem participou do procedimento, quando deveria estar na sala de cirurgia orientando os técnicos.

A defesa do médico chegou a apresentar documentos para responsabilizar o hospital particular pela morte da paciente, o que foi rejeitado pelo delegado.

Procurado pelo Portal SelesNafes.Com, o advogado Fernando Antônio Melém, que cuida da defesa do médico, disse que ainda não foi notificado sobre a decisão, mas que condutas de outros médicos não foram investigadas pela polícia.

“Temos documentos mostrando que usaram doses excessivas de tramal em outra unidade de saúde (hospital). Existe um parecer e um laudo atestando isso. (…) Vamos tomar as medidas jurídicas necessárias. Queremos restabelecer a verdade”, comentou.  

Facebook da Clínica Dr Brito: procedimentos estéticos

Melém disse que Dr Brito, que é otorrinolaringologista, nunca se apresentou como cirurgião plástico, e afirmou ainda que médicos não têm restrições para praticar medicina.

“Não tem obrigação de ter título. Esses títulos são concedidos por entidades privadas. O Dr Brito tem vários cursos. É como advogado, que pode atuar em qualquer área. E isso é uma posição do próprio Conselho de Medicina (médico)”.

Ele também negou que o médico tenha sido suspenso pelo CRM. No entanto, o Portal SN apurou que, no dia 3 de janeiro do ano passado, o Conselho Regional de Medicina do Amapá determinou a interdição cautelar parcial do médico, o que o impediu de atuar. A punição, contudo, durou seis meses.

O médico cumpriu a suspensão, e recorreu ao Conselho Federal de Medicina, que ainda não julgou o caso. A entidade decretou sigilo sobre o processo.

A clínica Dr Brito continua atuando normalmente, de acordo com o advogado. Na página da empresa no Facebook, existem anúncios de vários procedimentos estéticos que podem ser encontrados na clínica.

Seles Nafes
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