Por RODRIGO INDINHO
Em Macapá, bancas de revistas que já foram símbolos de cultura, e locais de encontro, hoje lutam contra a extinção, que, caso ocorra, levará embora histórias de vendedores que acompanharam a evolução da capital. É o caso de Dorimar Marques Monteiro, de 77 anos, dono da famosa e tradicional “Banca do Dorimar”.
Natural de Vigia, no Pará, Dorimar veio para Macapá com 12 anos de idade. O ano era 1955. O então jovem morou em Porto Grande, Calçoene e Serra do Navio, onde trabalhou por anos como garçom na extinta Icomi.
No dia 19 abril 1974, Dorimar fundou no cruzamento da Avenida Presidente Vargas com a Rua Cândido Mendes, na Praça Veiga Cabral, o empreendimento que se tornou referência em informação no Centro da capital. Nos domingos e feriados, o espaço era tradição da velha guarda, que se reunia para discutir futebol, política e jogar conversa fora.
Hoje, passados 45 anos, só existem lembranças das épocas de glórias em que as vendas de revistas, livros e jornais rendiam um bom dinheiro.
Lentamente desaparecendo da capital amapaense, as bancas de revistas se distanciam do cenário da cidade, e, cada vez mais, vão passando despercebidas pela população na medida em que aumenta o consumo de conteúdo pela internet.
A nova ordem quase levou Dorimar à falência. Ele conta que, hoje, seu negócio é 30% banca e 70% lanchonete. Além do serviço alimentício, o empreendedor precisou implantar serviços de xerox, impressão, plastificação, apostilas e recarga de celular, para ganhar um extra.
Com personalidade forte, mas sempre simpático, Dorimar conversou com o Portal SelesNafes.com, e falou das dificuldades que é trabalhar com as velhas e quase extintas bancas de revistas.
O que pode estar motivando a extinção da venda de revistas, livros e jornais nas bancas?
A internet acabou com a gente, com as revistas, e está acabando com as grandes editoras, porque faz de 4 a 5 meses que não recebemos uma revista de fora. Se você for em qualquer banca, vai encontrar os mesmos assuntos. Tudo, o povo procura na internet, ela, simplesmente, nos destruiu, porque lá quase tudo tem. Ela foi a causadora do desemprego todinho nesse país. Essa situação não é só no Amapá, é em todos os estados.
Então foi isso que lhe motivou a transformar mais da metade da banca em lanchonete?
Foi preciso. Como minha banca é tombada, tive que diversificar e correr atrás de alguma coisa para sobreviver e não ir à falência. Como tinha espaço, optei pela lanchonete, em 2018. Por isso, até hoje não fechei as portas. Aqui, ofereço café da manhã, almoço, lanches, feijoada nos sábados, e, assim, a gente vai tocando o barco.
O senhor ainda tem funcionários?
Meu caro, eu não tenho nenhum funcionário. O trabalho aqui precisa ser em família, porque não tem como pagar ninguém, mal dá para sobreviver. Por exemplo, hoje, está comigo minha mulher, Maria Pontes Monteiro, que não me abandona, meu genro e meus filhos. Assim, a gente vai vivendo.
Atualmente, o senhor vende quantos exemplares de revistas e jornais por dia?
Rapaz, é até triste falar nisso, mas, é realidade. Vendo de oito a dez jornais por dia, isso num dia bom. Revistas e livros, a gente passa até semanas sem vender nenhum exemplar. É doloroso, dá vontade até de chorar.
Como eram as vendas antes da internet?
No passado, só Deus sabe, que tempo bom era aquele. Meu carro forte eram os jornais de fora. O número é incalculável, mas, me dava bem. Hoje, faz mais de ano que não vem nenhum, porque ninguém distribui ou compra, só tínhamos prejuízos.
Além dos clientes, os antigos amigos deixaram de reunir-se aqui?
Graças a Deus, aos domingos, a velha guarda ainda se reúne aqui para um bom pate-papo, e conservação dessa amizade duradoura.
Qual a mensagem que o senhor deixa para a sociedade?
Que não parem de ler, ler traz sabedoria, e sabedoria é vida. Se puderem, venham aqui conhecer nosso empreendimento. Sei que serão bem atendidos, com produtos de leitura e alimentos saborosos. Forte abraço!