Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Vídeos que circulam pelas redes sociais amapaenses nos últimos dias têm causado controvérsia. São imagens da captura de uma arraia no canal da Avenida Mendonça Júnior, no centro de Macapá. Assista:
No primeiro e maior dos vídeos, é possível ver um jovem ultrapassando a barra de ferro (corrimão do canal) com uma zagaia nas mãos para fazer o abate do animal. A impressão é de que a arraia já está fisgada por um anzol, embora seja difícil ver a linha de pesca nas imagens.
Em certo momento, o homem arpoa a arraia e a traz para a superfície. As imagens de outros outros vídeos são mais fortes. Em um deles, um filhote da arraia agoniza sob um pedaço de papel. No outro, o ferrão da arraia mãe é arrancado com um terçado, sobre um pedaço de madeira.
As raias ou arraias, como são muito conhecidas na região amazônica. São peixes cartilaginosos que vivem em todos os oceanos e também em rios de água doce, como o Rio Amazonas. Esses animais têm forma achatada e vivem no fundo dos rios, geralmente nas partes mais rasas, e podem ser achados em praias de lama e reagem aos humanos.
“Olha, não sou ictiólogo [especialista que estuda a fauna aquática] e acho que pescar para comer é válido desde os primórdios, é algo que se confunde com a história da existência humana. Agora, pescar só para matar o animal, é um exibicionismo sem sentido. E pescar para comer em um dos pontos mais sujos da cidade? Isso é algo muito sem sentido”, declarou o biólogo Richardson Frazão.
Frazão explica que arraias cozidas e fritas são parte da dieta e do costume dos povos da Amazônia, ainda que não seja algo tão comum. O biólogo enfatiza também que, nesse caso, o animal deve ter aproveitado alguma maré alta ao entrar na corrente de água que leva ao canal, em busca de um lugar seguro para concluir e proteger o final da sua gestação.
“Estamos vivendo o maior período de destruição dos ecossistemas, habitats de espécies da história da espécie humana, a gente está destruindo tudo. Ver a cena de um dos filhotinhos morrendo, parece que a gente não está muito preocupado com a próxima geração. É forte, mas também nem é tão diferente do que acontece todos os dias. A água doce, por exemplo, estamos contaminando boa parte da nossa água potável e todo o nosso modelo atual de desenvolvimento leva a uma relação insana com a natureza. Serve para gente pensar e refletir”, finalizou o biólogo Richardson Frazão.